Tamanho da fonte:
O CONFLITO ENTRE O JOVEM E A LITERATURA
Última alteração: 12-11-2020
Resumo
O presente estudo, produzido sob o aporte dos Estudos Culturais e dos Estudos sobre Juventude, em vertente pós-estruturalista, representa um recorte da pesquisa “Juventudes contemporâneas de periferia e a sala de aula: discursos, tensionamentos e possibilidades”. Na referida investigação, buscamos visibilizar e problematizar os modos de ser e de viver de jovens contemporâneos e os possíveis diálogos de suas culturas juvenis com o currículo escolar. É importante destacar que os participantes da pesquisa são estudantes do final do Ensino Fundamental de escolas dos municípios de Sapucaia do Sul (RS), Canoas (RS) e Porto Alegre (RS), na faixa etária dos 13 aos 16 anos. Como recorte para o presente evento, apresentamos a análise sobre a relação estudantes de quatro escolas do município de Sapucaia do Sul (RS) com a prática da leitura literária. Utilizando a ferramenta do Google Formulários, questionamos os estudantes sobre aspectos de suas vidas, como o futuro acadêmico e suas atividades prediletas fora do ambiente escolar. Dentre as diferentes perguntas, questionamos sobre o número de livros que cada um lê ao longo de um ano. Vale destacar que as escolas pesquisadas e os alunos valem-se apenas de livros físicos para a prática de leitura. A partir de suas repostas, chamou nossa atenção a quantidade de livros, no período de um ano, que cada estudante lê. Dos 253 alunos participantes, aproximadamente 1/4 deles (24,5%) leram mais de sete livros. No entanto, quase 60% dos jovens leram, no máximo, três livros no mesmo período, a saber: a) 37,5% deles leram apenas de 1 a 3 livros e 19,8% afirmaram que não teriam lido nenhum livro durante esse período. E pouco mais de 18% leram entre quatro e sete livros em um ano. Dessa forma, com mais de 57% dos alunos lendo até 3 livros, podemos pensar que suas práticas de leitura atendam, tão somente, às solicitações dos professores das escolas para a realização de trabalhos curriculares. Podemos pensar que a geração atual, cada vez mais familiarizada com as novas tecnologias, consome muita informação pela internet, seriados e jogos online, mas a deixa de lado, vendo a mesma apenas como uma obrigação e fazendo com os jovens leiam cada vez com menos frequência. Para esses jovens que cresceram na internet e que estão mais acostumados com informações rápidas, diretas e de fácil entendimento, a literatura acaba sendo por vezes, “ultrapassada”. Contudo, a maioria das instituições de ensino ainda exige a leitura de obras físicas, com uma escrita rebuscada, sem interlocução didática, promovida pelos professores, com as culturas juvenis. Também podemos pensar que a literatura tenha um custo muitas vezes elevado para seu consumo, ao contrário dos serviços de streaming e dos jogos online (muitos deles gratuitos). A partir de nossas análises, destacamos a importância do diálogo entre escola, leitura e culturas juvenis para o fomento de leitores na vida adulta.