Última alteração: 02-09-2016
Resumo
Este trabalho busca compreender como se dá a construção de personagens femininas protagonistas em três séries audiovisuais que tematizam a política, produzidas para televisão e para a plataforma Netflix: Alicia Florrick, interpretada pela atriz Julianna Margulies em The Good Wife; Claire Underwood, interpretada por Robin Wright em House of Cards e Rachel Taro, interpretada por Géraldine Pailhas em Marseille.
Consideradas na contemporaneidade como espaços nobres e inventivos para a criação audiovisual no que diz respeito à estética e à dramaturgia (CARRION, 2011; MITTEL, 2012; JOST, 2012), as séries produzidas tanto para a televisão quanto para serviços de streaming têm problematizado assuntos atuais e polêmicos, refletindo discussões que se fazem presentes intensamente no mundo histórico e que acabam se tornando centrais também nas narrativas audiovisuais, como gênero, diversidade sexual, questões étnico-raciais e direitos dos grupos minoritários, de forma mais ampla.
Num momento em que se verifica um crescente interesse pelos estudos de gênero e pelos questionamentos sobre os padrões constituídos historicamente que delegam papéis e funções sociais a homens e mulheres (BUTLER, 2015; LOURO, 1997 e 2004; SCOTT, 1989; FISCHER, 2001 e KEHL, 1998), as narrativas seriadas vêm também apresentando personagens que se destacam por se distanciarem de um certo padrão de representação do feminino no cinema e na televisão.
Parte-se do pressuposto de que a criação das três personagens escolhidas e a representação da mulher presente nelas está inserida neste contexto de desconstrução de funções femininas associadas exclusivamente à maternidade, ao cuidado com a família, ao afeto ou à sexualização. As jornadas destas personagens nas séries são marcadas por pontos de virada em que elas voluntariamente saem do papel exclusivo de “esposas de políticos” e passam a ser protagonistas com trajetórias próprias.
O objetivo da pesquisa, portanto, é entender as funções destas personagens na dramaturgia de obras audiovisuais que se dedicam ao universo da política, que é predominantemente masculino. O referencial teórico, conforme indicado, propõe um cruzamento entre os estudos de gênero e as teorias do audiovisual e a pesquisa adota a metodologia de análise fílmica proposta por Vanoye e Goliot-Lètè (2012).