Em 1967, Henry Lefebvre refletiu a respeito da problemática urbana no ensaio seminal Le droit á la ville [O direito à cidade], no qual apresenta além de uma crítica teórica ao urbanismo vigente, propostas que poderiam ser adotadas por novos programas políticos. Ao analisar a visão de Lefebvre, o geógrafo David Harvey (2014) salienta que, no meio acadêmico, somos especialistas em reconstruir a genealogia das ideias de Lefebvre, porém precisamos entender que, para esse autor, as experiências cotidianas e a eclosão de inúmeros movimentos sociais foram fundamentais na construção de uma crítica à situação urbana da cidade de Paris ao fim dos anos 60.  Assim como no contexto vivido por Lefebvre, em nossas metrópoles contemporâneas podemos observar uma efervescência de movimentos sociais que tencionam com os poderes hegemônicos uma disputa por espaços urbanos. Em recente estudo, o Observatório das Metrópoles (2016) indicou um processo de elitização do centro da cidade de Porto Alegre, assim como um crescimento das periferias, que já alcançam os limites de municípios da região metropolitana. Mas para além da ciência produzida através de dados quantitativos, entendemos que é possível analisar a situação urbana desde um ponto de vista qualitativo. Neste sentido, a presente pesquisa se propõem a analisar a disputa do espaço urbano a partir do ponto de vista dos ativistas dos movimentos sociais de luta por moradia. O objetivo central desta pesquisa é identificar os motivos que levam os sujeitos engajados nesses movimentos sociais a ocuparem espaços centrais da metrópole gaúcha. Para tanto, através de uma pesquisa etnográfica de observação intensiva, serão realizadas entrevistas semiestruturadas, nas quais serão identificados os direitos que lhes foram negados na periferia e os motivos que levaram os ativistas a disputarem os espaços centrais da metrópole. A observação e entrevistas serão realizadas em diferentes ocupações de moradia da região central da cidade de Porto Alegre. Esta pesquisa encontra-se em fase de viabilização. Estão sendo desenvolvidos debates a respeito de textos referenciais junto ao grupo de estudos Movimentos Sociais 2.0. Além disso, como requer toda pesquisa de campo, está sendo desenvolvida uma aproximação do pesquisador para com os movimentos sociais de ocupação.