Portal de Eventos da ULBRA., XXII SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

Tamanho da fonte: 
“ESQUECER UMA VIDA” – BEBÊS COM MICROCEFALIA EM UM VÍDEO DA TV FOLHA
Paulo Renato Pimentel, Luiz Felipe Zago

Última alteração: 22-09-2016

Resumo


Resumo

Este trabalho é produto de uma pesquisa mais ampla em desenvolvimento desde janeiro de 2016. As áreas de abrangência da pesquisa são saúde coletiva e comunicação social, articuladas por meio da análise dos modos como notícias representam o processo saúde-doença. Nesta pesquisa, preocupamo-nos em analisar as construções discursivas no processo saúde-doença da epidemia de zika vírus no Brasil apresentadas em um vídeo específico disponível no Youtube. O vídeo “Zika, microcefalia e os dilemas da gravidez” foi publicado pela TV Folha na plataforma em 5 de fevereiro de 2016 e conta com mais de 183 mil visualizações. O vídeo foi escolhido de acordo com três critérios: contém um desdobramento de uma imagem diversas vezes reproduzida nas notícias analisadas na fase anterior da pesquisa; impedimento da leitura, cópia e reprodução de conteúdo imposto pelo veículo Folha de São Paulo online sobre suas notícias; o vídeo foi publicado pelo canal online oficial de um veículo já analisado na fase anterior da pesquisa. É perceptível a produção de múltiplas representações acerca da relação do zika vírus com o aumento de casos de nascimento de crianças com microcefalia em certas regiões do Brasil, especialmente no Nordeste. Os enquadramentos de câmera do vídeo, bem como suas falas, continuam forjando lugares para mães, para pais, e em especial para os bebês com microcefalia. Há a produção de pânico moral e aversão às crianças posicionadas como indesejáveis, responsáveis pelas incertezas e sofrimentos das mães. São chamadas de “geração perdida”, como uma determinação dada já no nascimento, por uma médica neuropediatra. Conforme relato de uma das mães entrevistadas no vídeo, seus filhos são olhados com nojo: “Tinha uma senhora de muletas, ai esperou a enfermeira vestir o menino, quando vestiu ela fez: Ah, até que é bonitinho. Quem é ela? Quem é a nojenta? É nojenta sim, porque olha para nossos filhos como se fossem uns ratos, umas coisas, não são, não são!”. Produz-se, assim, os bebês com microcefalia como sujeitos monstruosos, algo verificável também no relato da mãe que conta: “(...) E a minha médica foi muito grosseira para passar para mim, ela passou que: ‘assim você tem microcefalia, agora fazer esse exame para a gente ver o que é. E tem que fazer!’ Eu disse para ela que não poderia fazer. Então ela bruscamente disse: ‘Então você corre um risco de levar um susto quando seu bebê nascer!’”. A construção desse sujeito indesejável se reforça nos argumentos presentes nas falas da neuropediatra citada sobre o desenvolvimento das crianças com microcefalia, sobre as incertezas acerca da sua vida. Produz-se, assim, sentidos de corpo inútil, improdutivo, que possivelmente não desenvolverá as habilidades intelectuais básicas para o seu crescimento e para contribuição na sociedade. Tais sentidos são reforçados com um cântico de um pai incluído ao fim do vídeo: “só um sonho e nada mais, depois disso tanto faz, uma noite para esquecer de uma vida, minha estrela perdida.”


Palavras-chave


Estudos Culturais; saúde; Comunicação de massa.

Texto completo: PÔSTER