Última alteração: 12-12-2016
Resumo
O câncer de boca corresponde a 40 % dos cânceres de cabeça e pescoço e 90 % das lesões são do tipo histológico carcinoma epidermoide. Ele é predominante em homens com idade superior a 40 anos, seja no Brasil ou em outros países e o tratamento é realizado por cirurgia, radioterapia ou quimioterapia. Esferoide é o cultivo de células agregadas em três dimensões, o que mimetiza a região de hipóxia, o metabolismo e a morfologia dos tumores in vivo. A hipóxia altera o ciclo celular e a distribuição das células quiescentes por serem radiorresistentes. O objetivo do estudo foi avaliar o efeito da hipóxia e da radiação ionizante em esferoides do cultivo primário FRS (cistoadenocarcinoma papilífero da glândula salivar menor) quanto a morfologia e viabilidade celular. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da ULBRA sob o protocolo nº 668.455/2014. Foram plaqueadas 5x104 células por poço em placa de 96 poços fundo U sem tratamento, centrifugadas a 1000 g por 10 min e cultivadas em normóxia (atmosfera úmida contendo 5 % CO2 a 37 ºC) para formação dos esferoides. A cinética de cultivo dos esferoides FRS e FGH (linhagem de fibroblastos de gengiva normal) se deu pela fotodocumentação desde o plaqueamento até o dia 7 para mensuração do volume dos esferoides pelo programa ImageJ e fórmula (4/3)*pi*r1*r2*r3. No estudo piloto, os esferoides FRS foram submetidos a normóxia ou a hipóxia (3 % O2) por 12, 24 ou 48 h. Após a normóxia, os esferoides foram expostos a 15, 30 ou 60 J/cm2 de radiação ionizante emitida por onda contínua de 904 nm, com potência 0,5 W/cm2 a uma distância de 1 cm. Transcorrido 24 e 48 h de cada tratamento, avaliou-se a morfologia pela fotodocumentação e a viabilidade celular por meio da oxiredução do reagente alamarBlue. A partir dos resultados do estudo piloto, os esferoides FRS e FGH foram submetidos aos tratamentos de normóxia e hipóxia, associados ou não a radiação ionizante, e posteriormente a morfologia e a viabilidade celular foram novamente avaliadas. No dia 1, os esferoides FRS e FGH apresentaram 0,44 mm e 0,66 mm, respectivamente. A partir do dia 2, os esferoides FRS e FGH regrediram o volume, seja por degradação celular ou condensação, e no dia 7 exibiram 0,12 mm e 0,19 mm, em ordem. Os esferoides foram expostos a 24 h de tratamento atmosférico, irradiação de 30 J/cm2 e análise da viabilidade celular após 48 h. A hipóxia (60,8 %), a radiação ionizante (68,7 %) e ambas combinadas (83,2 %) reduzem, significativamente, a viabilidade celular dos esferoides FRS em relação a normóxia (100 %), dados corroborados com a morfologia. A radiação ionizante (155 %) eleva e a hipóxia reduz (69,35 %) a viabilidade celular dos esferoides FGH, significativamente, e os halos de degradação celular são menores quando comparados aos esferoides FRS. Os resultados estão em concordância com a literatura quanto a irradiação de 30 J/cm2 reduzir a viabilidade em células de câncer de boca e elevá-la na linhagem FGH.