Última alteração: 30-08-2016
Resumo
O modelo cartesiano de ciência tem exposto suas limitações e vulnerabilidades quando comparado a abordagens que incorporam o pensamento complexo, em vista disso, esta revisão narrativa de literatura tem como objetivo propor uma reflexão crítica sobre a visão mecanicista de mundo, presente no pensamento de René Descartes. O método cartesiano pode ser considerado um dos pilares da ciência moderna, mediante uso da razão – como princípio a ser seguido – Descartes empenhou-se na construção de um método unificado de ciência, no qual, deveria a razão desempenhar função imprescindível na 'obtenção' do conhecimento, substituindo antigas verdades por versões melhoradas ou mesmo por novas verdades, desde que elas fossem estabelecidas por meio do uso da razão. A autoridade atribuída à razão neste modelo de ciência produziu relevante impacto no pensamento moderno. Descartes acreditava que com a adoção de seu método, não haveria conhecimento de coisa alguma que não pudesse ser alcançado, nem verdades ocultas que não pudessem ser reveladas. Mas nem tudo era passível de se adequar aos preceitos que fundamentam o método proposto por Descartes. A natureza, por exemplo, que jamais deixou de ser complexa, se viu reduzida a uma máquina, e como toda máquina, portadora de comportamento determinístico, regulado de tal forma a ser útil ao homem. Este modelo de ciência obediente a regras universais e imutáveis demonstrou ser prejudicial não apenas à natureza, por preconizar a exploração desmedida dos recursos naturais, como também como à propria ciência, por ignorar condições e processos complexos que influenciam a construção do conhecimento, substituindo-os por uma visão demasiadamente simplificadora. Por que então deveríamos crer, que apenas uma metodologia baseada em regras simplistas e reducionistas seria capaz de explicar esse 'labirinto de interações'? Que postura devemos, nós adotar, de modo a melhor interpretrar esse universo de possibilidades? A ruptura com o paradigma cartesiano surge a partir da proposta da complexidade, não como uma resposta para nossas perguntas, mas sim como um desafio, capaz de abraçar a certeza e a incerteza, as partes e o todo, o simples e o complexo e todas suas relações antagônicas e complementares, capaz de reconhecer e lidar com o acaso, a incerteza e a desordem, e não apenas evitá-los. Para uma melhor compreensão dos meios em que estamos inseridos, a adoção de um pensamento complexo pode contribuir para o rompimento de barreiras que limitam e mutilam o conhecimento, tornando o pensamento científico menos dogmático e mais mutável, em um modelo de ciência onde fosse considerado não apenas um método, mas todos os possíveis e necessários para a construção do conhecimento.