O presente projeto de pesquisa investiga as pedagogias da imprensa negra no jornal O Exemplo, numa perspectiva ampla de pedagogia, que para além dos processos educativos formais, inclui os discursos empreendidos sem o objetivo explícito de ensinar, mas que também contribuem na construção de identidades negras. O objetivo central dessa pesquisa é mapear e analisar as denúncias de preconceitos raciais na educação, publicadas no jornal O Exemplo, nas primeiras décadas do século XX no Rio Grande do Sul. O jornal negro O Exemplo surgiu em Porto Alegre no final do século XIX, no ano de 1892 e circulou até 1930, com algumas interrupções. O Exemplo foi o primeiro registro impresso da história da comunidade negra rio-grandense. Neste sentido, este periódico possui inestimável valor histórico e cultural para o resgate da memória das populações afrodescendentes no pós-abolição. Em termos teórico-metodológicos trata-se de uma pesquisa que articula o campo teórico dos Estudos Culturais com os estudos sobre mídia e educação e relações étnico-raciais e educação. Conforme demostra Rosa Maria Bueno Fischer (2001) “a mídia opera no sentido de participar efetivamente da constituição de sujeitos e subjetividades, na medida em que produz imagens, significações, enfim, saberes que de alguma forma se dirigem à “educação” das pessoas, ensinando-lhes modos de ser e estar na cultura em que vivem” (p.12). Também os estudos sobre imprensa negra têm destacado a importância que os periódicos da imprensa negra atribuíram à educação de negros (as) no pós-abolição. Esta pesquisa se dá na perspectiva teórica dos Estudos Culturais, na direção apontada por teóricos como: Stuart Hall, Tomaz Tadeu da Silva, Rosa Maria Bueno Fischer, Maria Vorraber Costa e Adriana Camozzatto. Em termos metodológicos, num primeiro momento, mapeamos as denúncias de preconceitos raciais ocorridos na educação no Rio Grande do Sul entre os anos de 1916 a 1920. Em um segundo momento, analisamos quais foram os discursos mais recorrentes construídos pelos redatores do jornal nas narrativas contra os preconceitos raciais na educação. Entre os resultados parciais da pesquisa foi possível observar que os redatores do jornal O Exemplo denunciaram e combateram os preconceitos raciais na educação naquela época, apropriando-se estrategicamente de dois tipos de discurso: o discurso em defesa da nação e discurso do cristianismo. Destacamos dois casos que tiveram maior repercussão na sociedade e na imprensa rio-grandense: O primeiro, ocorrido na Escola Nossa Senhora dos Anjos, no município de Estrela/RS. O segundo, ocorrido na Escola Complementar, em Porto Alegre, dirigida pelo Dr. Clemente Gonçalves Pinto, autor da obra Seleta em Prosa e Verso, amplamente utilizada nas escolas de educação pública e privada do Rio Grande do Sul daquela época.