Última alteração: 17-10-2014
Resumo
Qualidade de vida (QV) é a percepção do indivíduo em sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações¹. A avaliação da QV do paciente oncológico é um importante indicador da resposta do paciente à doença e ao tratamento, influenciando decisões e condutas terapêuticas. Objetivou-se analisar os fatores que se associam a maior ou menor coeficiente de saúde global (SG) no paciente oncológico. A metodologia utilizada foi estudo transversal, descritivo, analítico, com abordagem quantitativa. A população abrange todos os pacientes atendidos no serviço; amostra de 102 pacientes, na cidade de Carazinho, RS. Foram excluídos os portadores de déficit cognitivo. Estudo atende às normas do CNS. Foram coletadas informações socioeconômicas e clínicas e aplicado o instrumento validado EORTC QLQ-C30 (European Organization for Research and Treatment of Cancer - Quality Of Life Questionnaire), do qual foram usadas as questões 29 e 30, que avaliam como o doente oncológico percebe sua saúde global. Os dados foram analisados no SPSS 16.0. O coeficiente de SG foi calculado conforme o manual EORTC, sendo que o mesmo varia entre zero e 100, valores maiores expressam melhor percepção de SG. Este escore foi comparado com as variáveis categóricas por meio do teste de qui-quadrado de Pearson. A média de idade foi de 59,99+13,78 anos, a maioria da amostra era casada (73,5%) e com predomínio do gênero feminino (56,9%). O coeficiente de SG teve média de 73,20+17,84 e não houve significância estatística quanto a: gênero (p= 0,068), idade (p= 0,068), status marital (p= 0,165), renda (p= 0,943), profissão (p= 0,072) e escolaridade (p= 0,995). Quanto aos procedimentos realizados desde o diagnóstico, pacientes submetidos à cirurgia apresentam índice de SG estatisticamente menor que aqueles não operados (p=0,006), o que pode se relacionar às mudanças no cotidiano e transformações da imagem corporal decorrentes do tratamento3. A SG não foi afetada nos outros procedimentos terapêuticos estudados: radioterapia (p=0,427); quimioterapia (p=0,681); hormonioterapia (p=0,974); imunoterapia (p=0,317); terapia alvo molecular (p=0,713); e terapia adjuvante (p=0,372). A percepção de SG foi significativamente menor nos pacientes com metástases, quando comparada com os que não as apresentam (p=0,028), o que pode se associar ao modo como o indivíduo sente ou observa sua doença4. A coexistência de diabetes mellitus e câncer faz com que a SG seja percebida como pior (p=0,01). A qualidade de vida no paciente oncológico, avaliada pelo coeficiente de saúde global, é significativamente afetada pela presença de metástase, tratamento cirúrgico e concomitância de diabete melito. Esses achados contribuem para a reflexão sobre abordagens terapêuticas que possam interferir positivamente no prognóstico do tratamento e na qualidade de vida.