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Protagonismo Negro no Jornal O Exemplo: Marcílio Francisco da Costa Freitas
Última alteração: 17-10-2014
Resumo
O presente projeto de pesquisa investiga o protagonismo negro na imprensa negra de Porto Alegre e as pedagogias culturais disseminadas nas narrativas dos editoriais e das matérias do jornal O Exemplo. Para o historiador Petrônio Domingues (2009), a interpretação de que os negros após a abolição da escravatura “passaram a viver na condição de párias, em estado de desajustamento e anomia social” é uma explicação generalizante e reducionista que precisa ser discutida. No Rio Grande do Sul, apesar da invisibilidade simbólica do negro e do racismo que marcou a sociedade gaúcha no início do século XX, encontra-se um grupo de afrodescendentes com carreiras profissionais bem sucedidas, membros de inúmeras associações religiosas, culturais e sociais e que participavam ativos do contexto político-cultural da sociedade porto-alegrense no grupo mantenedor do jornal O Exemplo. O Exemplo surgiu em 1892 e foi o primeiro periódico da história da comunidade negra porto-alegrense, encerrando suas atividades em 1930 por problemas financeiros. As histórias de vida desses afro-rio-grandenses na década de 1920 compõem um rico material de pesquisa, desconhecido e inédito. Neste sentido, o objetivo dessa pesquisa é investigar a trajetória de vida de Marcílio Francisco da Costa Freitas (1876-1928), primeiro gerente do jornal O Exemplo e presidente do Grupo Mantenedor na década de 1920. A importância dessa pesquisa vincula-se à a Lei 10.639, que completou 10 anos em 2013, determinando o ensino obrigatório da História e da cultura afro-brasileira e africana no ensino fundamental e médio, públicos e particulares, ampliando o foco dos currículos escolares para a diversidade étnica e cultural brasileira. Também o Parecer CNE/CP 3/2004 e a Resolução 1/2004, que regulamentam a Lei 10.639 e que instituem as “Diretrizes Curriculares” recomendam valorizar a diversidade e a diferença nos espaços educativos, formais e informais, e romper com o domínio da cultura européia, dando visibilidade às experiências da comunidade negra antes e depois da diáspora africana para o Brasil. A investigação da trajetória de vida de Marcílio Freitas se dá na perspectiva teórica dos Estudos Culturais, onde as identidades negras são construídas historicamente, produto das diásporas africanas e do pertencimento em múltiplas redes sociais, políticas e culturais. Para Stuart Hall, as identidades diaspóricas não são unificadas, mas pertencem a culturas híbridas e habituadas a negociar no mínimo duas identidades, como negros e como brasileiros. O conceito de identidade desenvolvido neste projeto tem a ver com a forma “como nós temos sido representados” e “como essa representação afeta a forma como nós podemos representar a nós mesmos”. São essas proliferações de identidades negras e articulações com as múltiplas referências das experiências negras diaspóricas que tornam os estudos das identidades negras complexos e necessários.