Última alteração: 17-10-2014
Resumo
A Escherichia coli (E.coli) é uma bactéria comensal da flora intestinal das aves, porém algumas cepas podem invadir e se multiplicar em diferentes tecidos, resultando em sintomas sistêmicos (condição clínica conhecida como colibacilose). A doença ocorre apenas quando a cepa infectante apresenta fatores de virulência (codificados por genes específicos) que permitem a adesão e proliferação no organismo hospedeiro. Estudos prévios analisaram a ocorrência de fatores de virulência em cepas patogênicas (denominadas APEC, avian pathogenic E. coli), isoladas de aves com colibacilose, em comparação com cepas comensais/fecais (AFEC, avian fecal E. coli), isoladas de aves de lotes saudáveis. Os genes cvaC, iroN, iss, iutA, sitA, tsh, fyuA, irp2, ompT e hlyF apresentaram uma frequência significativamente maior nas cepas patogênicas e têm sido utilizados para a definição da patogenicidade dos isolados aviários de E. coli em outros países. O objetivo do presente estudo foi avaliar a ocorrência e a frequência destes genes de virulência em isolados bacterianos de granjas de produção industrial de aves do Brasil utilizando as técnicas da reação em cadeia da polimerase (PCR) e de sequenciamento de DNA. Além disso, a análise destes genes foi utilizada para diferenciar as cepas patogênicas (APEC) das comensais (AFEC) no nosso país. O estudo completo foi realizado com 138 isolados de E. coli obtidos a partir de amostras de tecidos/órgãos (baço, fígado, rim, traquéia, pulmões, pele, ovário, oviduto, intestino, cloaca) de lotes de aves (com ou sem suspeita de colibacilose) de granjas de produção de frangos e perus das principais regiões produtoras do Brasil. O DNA de todas as amostras foi extraído e posteriormente os dez genes de virulência foram detectados pela reação em cadeia da polimerase (PCR, Polymerase Chain Reaction). Adicionalmente, 72 isolados foram selecionados para o sequenciamento dos dez genes (com um total de mais de 200 genes sequenciados) e comparação com as cepas de referência. Os resultados mostraram que os dez fatores de virulência foram detectados em isolados brasileiros de E. coli, com frequências que variaram de 39,9% (irp-2) a 68,8% (hlyF e sitA). Além disso, uma alta similaridade de nucleotídeos (mais de 98%) foi observada entre as sequências de genes de isolados brasileiros e cepas de referência. Na diferenciação dos isolados, 79 foram definidos como patogênicos (APEC) e 59 como comensais (AFEC). Estes dados demonstram que os principais fatores de virulência de referência de E. coli estão presentes em isolados associados à colibacilose no Brasil. A análise conjunta dos dez genes de virulência permitiu a diferenciação entre cepas patogênicas e comensais. Esta metodologia de análise tem sido utilizada para a determinação de patogenicidade de isolados de E. coli obtidos de granjas de produção de aves do Brasil.