Última alteração: 23-10-2012
Resumo
As novas gerações de pessoas envelhecentes constituem-se como subjetividades criadas em um contexto que é interconectado por relações midiáticas. Informações diversificadas são entregues a domicílio, mesmo quando não solicitadas. Esse trânsito inflacionado de narrativas, conceitos, imagens e enredos informativos provocam relações discursivas e interações entre seus ouvintes e interlocutores. O processo de envelhecimento humano está permeado dessa culturalidade midiática. Com as estimativas da Organização Mundial da Saúde de que, em 2025, o Brasil ocupará o 6º lugar em âmbito mundial no contingente de idosos, pode-se vislumbrar novas produções dessas subjetividades. Diante da argumentação, problematizou-se: quais discursos se articulam na produção da envelhecência em fenômenos midiáticos como peças publicitárias? Tal problema orientou-se pelo objetivo: estabelecer relações entre os discursos midiáticos e os discursos de pessoas em processo de envelhecimento que se constituíram em sujeitos de pesquisa, analisando possíveis similaridades e diferenças. Foram utilizados como instrumentos de pesquisa dez peças publicitárias veiculadas na mídia televisiva nos anos de 2010, 2011 e 2012 em, pelo menos, duas emissoras da TV aberta. Os sujeitos da pesquisa foram 15 pessoas em processo de envelhecimento, com mais de 50 anos de idade, que constituíram um grupo focal. As 5 sessões do grupo focal foram filmadas. Os dados foram examinados de forma qualitativa e submetidos à análise de discursos produzidos nas peças publicitárias e de discursos dos sujeitos participantes do grupo focal na perspectiva metodológica de Foucault e Orlandi. As peças publicitárias analisadas foram categorizadas em quatro grupos temáticos: estética, novas tecnologias, planejamento financeiro, saúde e bem estar. Com base na análise de dados verificou-se que os discursos midiáticos nas peças publicitárias destinadas à envelhecência, na medida em que trazem apelos culturais da sociedade de consumo, propõem a produção de novas necessidades, comparando-as com as das novas gerações. As análises dos discursos produzidos no grupo focal indicaram que os envelhecentes são apresentados, em peças publicitárias, como transformadores de tabus e preconceitos pela naturalização do uso, mas desconsiderando reais necessidades, concernentes à praticidade e efetiva utilização dos produtos. Concluiu-se que: as personagens envelhecentes de peças publicitárias são representadas como reprodutoras de modelos juvenis; as peças publicitárias replicam preconceitos em relação a comportamentos de pessoas envelhecentes; tais peças acabam produzindo necessidades e contribuindo na produção de subjetividades; como resultado desse processo de subjetivação, os envelhecentes que se constituíram em sujeitos de pesquisa percebem-se muito consumistas, embora reconheçam que suas necessidades, na maioria das vezes, não são contempladas, tendo em vista estereótipos de personagens e apologias de produtos.