Última alteração: 24-10-2012
Resumo
Este estudo analisa as narrativas em defesa da preservação do patrimônio histórico da cidade de Porto Alegre na imprensa local, na década de 1970. Trata-se de examinar como especialistas do patrimônio atribuíram novos valores, sentidos e usos ao Solar da família Lopo Gonçalves Bastos, na luta pela sua preservação e pelo seu reconhecimento como patrimônio cultural da cidade. Examina-se particularmente, as narrativas do jornalista Alberto André e do historiador Sérgio da Costa Franco e as múltiplas representações de memória, patrimônio e museu que esses intelectuais construíram em defesa da preservação do Solar naquele contexto histórico. Que valores e critérios culturais esses sujeitos sociais atribuíram ao patrimônio cultural da cidade, particularmente, ao Solar Lopo Gonçalves? Como construíram culturalmente noções de memória, patrimônio e museu naquele contexto histórico? De que forma a preservação patrimonial articulou-se a construção de identidades locais? Essas são questões centrais que pretendemos examinar neste trabalho. Trata-se de uma análise cultural, a partir dos pressupostos teóricos dos Estudos Culturais, na perspectiva de que as representações culturais contidas na linguagem, não apenas "falam sobre", mas constituem as coisas sobre as quais falam. De acordo com a abordagem construcionista do sociólogo Stuart Hall (1997) as coisas não possuem um significado intrínseco, essencial, mas construímos o significado das coisas utilizando-nos de sistemas de representação e classificação. Entre os resultados parciais obtidos nesta pesquisa observou-se que as narrativas preservacionistas de especialistas do patrimônio cultural, em Porto Alegre, na década de 1970, parecem se enquadrar na tendência das ações destinadas a preservar os patrimônios a partir de traços intrínsecos da sua própria materialidade, privilegiando, o valor testemunhal de edifícios de caráter monumental e de épocas distantes, o que com freqüência levou a reificação e fetichização do patrimônio cultural. Ademais, no que se refere ao processo de atribuição de valores culturais ao Solar Lopo Gonçalves, foram recorrentes os valores históricos, de estilo arquitetônico, com predominância do barroco colonial, além do valor de originalidade, representando o Solar como "autenticamente lusitano", e por último, seu valor contemporâneo como sede do futuro Museu de Porto Alegre. Vale destacar, que estas representações sobre o Solar nas colunas dos jornais locais parecem ter sido eficazes para sensibilizar os leitores para a importância da sua preservação e contribuíram para reverter o processo adiantado de deteriorização desse imóvel e para transformá-lo em patrimônio cultural e em sede do Museu da Cidade de Porto Alegre, completando assim, seu processo de sua patrimonialização.