Última alteração: 23-10-2012
Resumo
A gestação na adolescência se associa com risco aumentado para a saúde materna e infantil, assim como se relaciona com resultados econômicos e socias negativos. O choro infantil humano é um comportamento com função primária de sobrevivência ferramenta que mais chama a atenção dos cuidadores, a qual pode traduzir necessidades variadas como atenção, fome, frio, dor, entre outras. Paradoxalmente, o choro excessivo, especialmente em bebês entre 3 e 5 meses de idade, se tornou uma queixa freqüente a motivar os pais a procurarem atendimento em serviços de saúde. Ainda, se relaciona a custos emocionais elevados para as mães e familiares, está envolvido com interação negativa mãe-bebê, depressão materna, elevação do estresse doméstico, e aumento da violência familiar, podendo inclusive ocasionar maus-tratos infantis e até agressão fatal da criança pelos cuidadores. As causas orgânicas são as menos encontradas na literatura e parece que as modificações evolutivas deste comportamento nos próprios bebês ou diminuição da tolerância entre os cuidadores, por fatores emocionais, familiares ou sociais seriam fatores associados. O presente estudo, com delineamento transversal, objetivou detectar a prevalência de choro excessivo, de acordo com a percepção materna, em lactentes de mães adolescentes, assim como verificar a sua associação com fatores sociodemográficos, fatores relacionados à gestação e parto, aos relacionamentos familiares, aos cuidados com os bebês e com indicadores emocionais maternos. É um projeto satélite da pesquisa “Fatores associados à gestação na adolescência: um estudo de casos e controles com jovens de 14 a 16 anos em Porto Alegre, RS”, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e desenvolvida pelo professores do Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) da Universidade Luterana do Brasil. Obteve um total de 424 adolescentes que compuseram os “casos" do estudo original, as quais responderam a questionário fechado. A prevalência de choro excessivo foi de 15,2 %, e após análise multivariada e ajustes para fatores de confusão, as associações que permaneceram no modelo com o desfecho de choro foram classe social, raça branca e grau de dificuldade para cuidar do bebê. Os bebês com maior prevalência de choro foram os filhos de adolescentes brancas (RP 1,69 - IC95% 1,09 a 2,52) p valor de 0,019; Pertencentes à classe social E - conforme classificação ABEP- (RP 4,79 - IC95% 1,43 a 15,97) p valor de 0,011; e aqueles cujas mães referiram ter dificuldade de cuidá-los (RP 2,07 - IC 95% 1,27 a 3,39) p valor de 0,004. A importante associação verificada com classe social mais desfavorecida reforça a necessidade de intervenções visando melhora dos determinantes sociais em saúde, como forma de reduzir a vulnerabilidade dos indivíduos pertencentes a esta.