Última alteração: 29-10-2013
Resumo
A partir do conceito de “pedagogia cultural” entende-se que inúmeros artefatos e instâncias da cultura apresentam uma dimensão pedagógica, ensinando modos de ver o mundo, a sociedade e a nós mesmos. Trata-se de uma série de saberes que transpõem os muros da escola, produzidos e transmitidos através das interações sociais e tecnológicas. Nesse sentido, a mídia televisiva atua como uma pedagogia cultural, produzindo e regulando significados, valores e gostos em nossas sociedades, bem como popularizando a ciência e os conhecimentos científicos. O objetivo do presente trabalho é analisar, a partir de autores e conceitos dos Estudos Culturais, dos Estudos Culturais de Ciência e Tecnologia e dos Estudos de Mídia, as estratégias utilizadas pelo jornalismo científico televisivo para representar (e, nesse sentido, construir e vender) a cura das mais diversas doenças que afligiriam a humanidade. Serão analisados dois programas televisivos dominicais de grande audiência, no período de janeiro a junho de 2013, veiculados por canais abertos (Fantástico e Domingo Espetacular, da Rede Globo de Televisão e da Rede Record, respectivamente). Dentro de tais programas televisivos, serão selecionadas aquelas reportagens que fizerem referência à cura ou, ainda, ao tratamento de doenças diversas (câncer, AIDS, dengue etc.). As análises preliminares apontam que o jornalismo científico televisivo ajuda a divulgar e popularizar conhecimentos das áreas científicas para os mais variados públicos por meio de uma linguagem eufórica, celebratória, dramática e esperançosa; além disso, o conhecimento científico e tecnológico construído pelo jornalismo científico televisivo é normalmente espetacularizado, marcado pelo uso de expressões superlativas e por linguagens que evocam um senso de grandiosidade. Para comunicar aos públicos “as mais recentes novidades” do mundo da Ciência, os programas de TV analisados nesta investigação se utilizam de diversas estratégias de modo a trazer legitimidade e credibilidade às reportagens, como a presença de um “grande especialista” em determinada área, ou estar/citar um laboratório de uma das “maiores universidades” do mundo. Outra estratégia verificada é a vasta utilização de recursos de animação e computação gráfica para “didatizar” mecanismos e processos biológicos diversos.