Portal de Eventos da ULBRA., XIX SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

Tamanho da fonte: 
Representações, Práticas Culturais e Pedagogias das Comemorações na Imprensa Negra no Rio Grande do Sul (1920-1930)
Thanise Guerini Atolini

Última alteração: 30-10-2013

Resumo


O presente projeto de pesquisa tem por objetivo analisar as representações mais recorrentes de lideranças afro-brasileiras produzidas durante as comemorações da abolição da escravatura na data do 13 de maio, no jornal negro “O Exemplo”, na década de 1920, em Porto Alegre. Trata-se de investigar e mapear os múltiplos significados atribuídos pelas lideranças negras às memórias da escravidão, a abolição, aos abolicionistas e as suas associações nas narrativas publicadas no jornal O Exemplo. O projeto se vincula às demandas de implementação da Lei 10.639 e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. O jornal O Exemplo surgiu em 1892 e foi o primeiro registro impresso da comunidade negra porto-alegrense, tratando-se de um testemunho de inestimável valor histórico cultural para o resgate da memória das populações afrodescendentes no pós-abolição. Após 37 anos de existência, o jornal deixou de circular em 1930, em virtude de problemas financeiros. Em termos teórico-metodológicos aproprio-me das teorizações de Geniéve Fabre (1994), sobre o conceito de comemorações que considera como pertencentes à história cultural e política dos afro-descendentes e não como simples manifestações do folclore, importantes apenas nos calendários oficiais, mas como gestos políticos que contribuem para preservar a memória coletiva e reafirmar o compromisso dos afro-descendentes com a liberdade. Aproprio-me ainda, dos conceitos de representação e identidade, conforme discutidos por Stuart Hall (1997). Entre os resultados parciais da pesquisa observa-se que as lideranças negras representaram o 13 de maio como “uma conquista inigualável para a civilização” e a escravidão foi representada como duplamente vergonhosa, “por sua essência e porque nos expunha ao desprezo e ofensas de outras nações” e também como “um cancro social”, como uma “feia nódoa”. As narrativas produzidas no jornal sobre o “13 de maio” evidenciam a importância da data para a construção das memórias coletivas negras e para a constituição de um panteão de heróis abolicionistas, tais como: Visconde do Rio Branco, Princesa Isabel, José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, Visconde do Rio Branco, João Alfredo, Ferreira de Meneses, Quintino Bocaiúva, Júlio de Castilhos e outros. Nesta data os afrodescendentes representaram a “raça negra” ora como “fortes, trabalhadores, que tão bem adaptaram-se ao nosso meio” ora como “desprotegidos filhos da África”. O 13 de maio foi também o momento para reafirmar a luta dos negros contra o “preconceito de cor” muitos dos quais ainda perduravam naquela década e reconheceram que “a princesa Isabel, com respeito à abolição não fez mais que uma simples formalidade (...), pois a abolição já havia sido expulsa do Brasil pelo seu povo ou nas palavras de Patrocínio “o 13 de maio não foi um favor, nós o conquistamos”.

Texto completo: Pôster