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DETECÇÃO DE LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA EM URUGUAIANA
Última alteração: 12-11-2020
Resumo
A leishmaniose é uma doença causada pelo protozoário Leishmania. Os hospedeiros definitivos são mamíferos, incluindo humanos e cães. O hospedeiro intermediário é o flebotomíneo Lutzomyia, responsável pela transmissão1. Os cães são os principais reservatórios naturais da doença e 50% a 60% dos animais infectados em áreas endêmicas são assintomáticos, mas sendo fonte de transmissão2. Os sinais clínicos mais comuns são apatia, linfoadenomegalia, hepatoesplenomegalia, onicogrifose, anemia, lesões oculares e emagrecimento³. Lesões cutâneas ocorrem em 56 a 90% dos animais com Leishmaniose Visceral Canina (LVC)1.Atualmente se recomenda como diagnóstico o TR DPP® como triagem e o teste sorológico imunoenzimático ELISA nos cães reagentes4. Pesquisas apontam os exames moleculares, como a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), como mais sensíveis3.A leishmaniose costuma ser frequente nas regiões norte e central do país, mas há alguns anos, casos da doença foram registrados na região sul. O primeiro caso autóctone ocorreu em São Borja (fronteira com a Argentina), em 2008 e em Uruguaiana desde 2017 há aumento de casos em cães e 3 casos em humanos6.Objetivo do estudo é reportar a recente ocorrência de LVC em cães no município de Uruguaiana, localizado na fronteira com a Argentina.A coleta de sangue foi realizada por uma médica veterinária no município de Uruguaiana, entre agosto de 2019 e fevereiro de 2020, por venopunção em cães domésticos com suspeita de LVC. O critério de inclusão no estudo era ter dois ou mais sinais clínicos da doença.As amostras de sangue foram armazenadas em um tubo sem anticoagulante para realizar o teste sorológico e com anticoagulante para os testes moleculares. O teste rápido feito no local era o TR DPP® e o teste confirmatório para os positivos, eram enviadas para o laboratório LACEN-RS. As amostras para realização do teste molecular eram levadas ao Laboratório de Biologia Molecular da ULBRA. A extração de DNA foi feita pelo método de adsorção em sílica e a amplificação com o gene alvo kDNA, de 120 pb5. Foram utilizados controles negativo e positivo.A população de estudo foi composta por 51 cães, sendo que 46% (n= 23) possuía menos de 2 anos, 58% (n = 29) eram machos, 85% (n=41) não tinha raça definida, 90% (n = 45) possuía pelagem curta e convivia com outros cães.Do total de amostras analisadas, 31 (60,8%) foram positivas para L. infantum nos testes realizados. Dos cães com menos de 2 anos, 12 (38,7%) foram positivos, 58,1% (n = 18) dos machos eram positivos e 41,9% (n = 13) das fêmeas. Os cães sem raça definida foram positivos em 87,1% dos testes (n = 27), 90,3% que possuía pelagem curta (n = 28) e 90,3% (n = 28) convivia com outros cães.Dos cães positivos, 54,8% apresentou perda de peso, dentre as alterações cutâneas apresentadas foram 83,9% pelo opaco, 71% alopecia, 64,5% descamação e hiperqueratose. Lesões oculares estavam presentes em 64,5% dos positivos e onicogrifose em 51,6%. Linfadenopatia e hepatoesplenomegalia foram observadas por método de palpação e constatadas em 83,9% e 16,1% dos animais com LVC, respectivamente.Em comparação com os métodos sorológicos 22 cães (43,1%) foram positivos em ambos, 6 (11,8%) foram positivos apenas no teste rápido e 3 (5,9%) apenas no PCR. Os resultados podem variar de acordo com o tempo de infecção, tipo de amostra coletada, vacinação e outras doenças concomitantes. Esses dados devem ser utilizados para implementar medidas protetivas na região, para que não haja aumento do número de casos em animais e humanos.