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Circulou nas redes sociais, no final de 2016 e ao longo de todo o primeiro semestre de 2017, uma imagem que causou bastante repercussão: a estátua de cobre do artista dinamarquês Jens Galschiøt intitulada “A Sobrevivência dos Mais Gordos” (2002), “representando uma adiposa figura feminina (Justitia) sentada nas costas de um homem faminto” (WIKIPEDIA[1], 2017). Em 10 de junho de 2017, o polêmico ministro do Supremo Tribunal Federal (e, também, do Superior Tribunal Eleitoral), Gilmar Mendes, em sua conta oficial no Twitter (@gilmarmendes), anunciava: “Volto ao Twitter depois de uma semana intensa, quando os olhos de toda a sociedade se voltaram ao TSE”. O usuário @Ari_azevedo, em resposta a Gilmar Mendes, twittou: “Inclusive é unânime q após sua atuação a lá João Plenário, o fechamento da casa é imperativo”. Acompanhando esta mensagem, o usuário incluiu a imagem da referida estátua de Galschiøt – e, em seguida, publicou uma outra imagem, uma charge de autoria desconhecida, que substitui a “adiposa figura feminina” pelo próprio Gilmar Mendes, nu, sentado nas costas de um homem pequeno e frágil.  Neste caso (e em muitos outros), o que existe é uma espécie de “gordofobia por tabela” – odeia-se Gilmar Mendes, os excessos cometidos por Gilmar Mendes, o Judiciário com todo o seu plantel de Ministros, Juízes, Procuradores, Desembargadores etc. tidos como “privilegiados” e “acima do bem e do mal” e, de quebra (ou por tabela), odeia-se o corpanzil e a mera existência de Gilmar Mendes, o “obeso maligno” (FISCHLER, 2005). A Justiça – não mais uma divindade[2] cega (ou com os olhos vendados) com uma balança na mão esquerda e uma espada na mão direita, mas como uma gorda nua bastante corpulenta e com as tetas caídas – representa, aqui, “excesso”, “desperdício”, “descontrole”, “usurpação”, “corrupção”; representa, ainda, um humano opulento (que já tem muito) aproveitando-se de outro, magro e esquálido, que a “carrega nas costas” apesar de sua aparente fraqueza. De fato, este é apenas um exemplo de como circulam representações de corpos fora do padrão em redes sociais – e de como tais representações fomentam ódios e fobias em torno da gordura corporal. Este estudo, parte de um projeto de pesquisa maior, pretende analisar e discutir, a partir dos Estudos Culturais em Educação e dos Fat Studies, o medo e o ódio contemporâneos ao gordo e à gordura em uma rede social – o Twitter. Espera-se, com isso, ampliar as discussões em torno das pedagogias do corpo e, sobretudo, combater a intolerância corporal nas redes sociais.

[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Jens_Galschi%C3%B8t Acesso em 16 jun. 19.

[2] Para ter acesso a explicações sobre os símbolos utilizados pela Justiça ao longo da História consulte  http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=bibliotecaConsultaProdutoBibliotecaSimboloJustica&pagina=inicial Acesso em 19 jun. 19.