Portal de Eventos da ULBRA., XXIV SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

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O Jornal Boca de Rua e o fazer etnográfico enquanto estratégia pedagógica
Caroline de Mendonça Musskopf, Luiz Felipe Zago

Última alteração: 08-09-2018

Resumo


Os estudos sobre a população em situação de rua são recentes no Brasil e começaram a ganhar visibilidade nas últimas décadas, com o intuito de impulsionar novas políticas públicas voltadas para essas demandas (MEIRELLES, 2017). Ainda assim, não existe uma maneira hegemônica de analisar a população em situação de rua e, por isso, estabelecem diferentes maneiras de pertencer à "rua" (GEHLEN et Al, 2016). Em um contexto de marginalização constante desta população, por parte do poder público e de seus agentes, mas também pela população geral de Porto Alegre, há um processo de resistência que se articula em diversas frentes, até chegar a iniciativas populares de coletivos e mídias radicais alternativas (DOWNING, 2004). Nesse caso, é possível observar um processo midiático de contestação aos discursos e às representações exploradas pelas mídias tradicionais estabelecidas. Assim se caracteriza o Jornal Boca de Rua, analisado no presente estudo. O jornal é formado por moradores de rua, estudantes voluntários e foi fundado pela Organização Não Governamental Agência Livre para a Informação, Cidadania e Educação (ONG ALICE). Com o objetivo de aprofundar-se na produção de conteúdo do Jornal Boca de Rua e nas implicações resultantes da construção e manutenção deste espaço enquanto afirmação democrática, esta pesquisa se dá a partir da observação-participante, com inspiração na etnografia pós-moderna, há 15 meses (RIPOLL, 2016). Neste contexto, a atuação em campo também se constitui enquanto uma estratégia pedagógica, tanto para quem pesquisa, enquanto estudante de jornalismo, quanto para quem, no dia a dia da produção de um jornal impresso, precisa de referências técnicas próprias da profissão. Se, por um lado, os integrantes do Jornal Boca de Rua possuem conhecimentos apurados sobre valores-notícia e a chamada "rualogia" - nome batizado pelo grupo aos conhecimentos empíricos de quem vive na rua - por outro, neste lugar de estudante e voluntária do jornal, tenho maior facilidade para, por exemplo, planejar enfoques ou manusear equipamentos de gravação de áudio e vídeo. Essa relação pedagógica, assim chamada aqui, ocorre durante as reuniões de pauta semanais. Em geral se dá de forma orgânica e bastante flexível, tendo em vista que o jornal não obedece diversas "normas" já estabelecidas pelo jornalismo hegemônico, como a busca pela objetividade e imparcialidade. Isso ocorre tanto por sua natureza radical alternativa quanto pelas características próprias do grupo, que resultam em textos com características orais e, muitas vezes, declaratórias. Os integrantes levantam questões sobre a relevância da pesquisa acadêmica no contexto em que vivem e questionam a quem serve o conhecimento científico quando este permanece restrito ao âmbito da academia. Nesse sentido, nota-se a importância de desenvolver discussões que articulam possíveis funções da observação-participante e suas implicações concretas para a vida de grupos vulnerados.

Palavras-chave


Jornal Boca de Rua; Mídia Radical Alternativa; Observação-participante; Estratégia pedagógica

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