O pós-abolição no Brasil foi um período de luta e resistência por parte da comunidade negra em função da marginalização social e do racismo manifestado publicamente como resquícios do escravismo. Os negros mesmo após conquistar a liberdade legal, viviam numa realidade de discriminação. Através das edições de O Exemplo é possível observar que, mesmo com tão pouco tempo após a abolição da escravatura, os negros que haviam alcançado certa posição social percebiam que a igualdade proposta pelo 13 de maio estava distante da sociedade brasileira. Visando superar essa segregação, os redatores do jornal O Exemplo, nas primeiras décadas do século XX, buscavam formas de resistência e ressignificação da realidade à qual pertenciam. A presente pesquisa tem como objetivo analisar a tomada de consciência e o discurso de patriotismo por parte dos redatores do jornal O Exemplo, na luta por direitos e cidadania, no projeto de superação do racismo. O jornal, produzido pela comunidade negra de Porto Alegre, circulou de maneira constante – com alguns intervalos, entre 1893 e 1930. Realizando a leitura de artigos das edições de 08/01/1893, 17/09/1916 e 22/10/1916 é possível, através da análise de conteúdo, explorar as questões propostas pelos redatores do jornal, principalmente com relação ao seu descontentamento e à cobrança ao Estado por medidas que não discriminassem a população negra. Nos três textos analisados, encontra-se o descontentamento por parte dos redatores em relação ao tratamento dos negros pelos brancos em diferentes espaços sociais. Tratamento esse que discriminava a população negra.

Felizmente possuimos hoje melhor intuição de nossos direitos; e embora a lucta tenha de ser eivada de peripecias, não desalentaremos; e cedo virá o dia em que, completamente esmagados vossos tolos preconceitos e ridiculos sophismas, assumiremos logar mais digno entre as sociedades cultas. Esperem e verão (O EXEMPLO, 08/01/1893).

A partir da análise, pode-se perceber que organizados em grupo, os redatores declaravam em seus textos tanto reivindicações como respostas aos fatos ocorridos. Pelos textos, eles manifestam insatisfação em relação aos atos de racismo, pois entendiam que eram cidadãos tanto quanto os brancos e que sempre foram importantes para a construção e defesa da nação brasileira, ou seja, revelam em sua luta um sentimento patriótico. Sendo assim, os artigos analisados do jornal demonstram uma tomada de consciência e de posição por parte dos redatores frente à discriminação existente na sociedade.