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LITERATURA DE AUTORIA INDÍGENA E ESTRATÉGIAS INTERCULTURAIS
Última alteração: 08-09-2018
Resumo
A temática das diferenças tem movimentado, nas últimas décadas, um amplo mercado editorial, sendo publicadas obras com variados enfoques e formas de abordar questões sociais, culturais, étnicas, geracionais, de gênero, por exemplo. As produções literárias que abordam as formas de viver dos povos indígenas têm integrado, com maior frequência, os acervos das escolas de nosso tempo. Há, na atualidade, considerável número de histórias escritas por autores indígenas, e este é um segmento da literatura infantil que adquire notoriedade nas últimas décadas, articulada a um modo de expressão política de identidades, de lugares de fala e de lutas de coletivos sociais vistos como diferentes. A literatura que inclui personagens indígenas não é fato recente, a temática já foi abordada por autores como Monteiro Lobato, José de Alencar, Viriato Correa, Érico Veríssimo. Se a figura do índio já foi vinculada à selvageria, e esteve marcada fortemente no lugar de antagonista ou personagem secundário (firmando visão do homem branco herói na literatura), na atualidade, a representação que prevalece é a das diferenças culturais ou da diversidade. A literatura de autoria indígena adquiriu notoriedade a partir dos anos 1990, tendo como autor de maior notoriedade Daniel Munduruku. O objetivo da presente pesquisa é analisar quais estratégias são utilizadas por autores indígenas para construir diálogos interculturais com um leitor-criança não pertencente a sua cultura. O presente estudo integra uma pesquisa mais ampla, intitulada “Pedagogias e políticas da diferença em contextos interculturais”, e se inscreve no campo teórico dos Estudos Culturais em Educação. Para respaldar a discussão sobre literatura infantil e literatura indígena são utilizados autores como Lígia Cademartori, Peter Hunt, Janice Thiél, Iara Tatiana Bonin. A metodologia da pesquisa consiste na análise cultural das obras, levando em conta textos principais e paratextos, assim como a construção da narrativa, que se dá na associação entre texto escrito e imagens. Foram analisadas s seguintes obras de autoria indígena: O diário de Kaxi: um curumim descobre o Brasil (2001), Kabá Darebu (2002) e Caçadores de aventuras (2009), de autoria de Daniel Munduruku; As pegadas do Kurupyra (2008), escrita por Yaguerê Yamã; Iarandu: o cão falante (2002) e Ajuda do saci Kamba’i (2006), de autoria de Olívio Jekupé; O caso da cobra que foi pega pelos pés (2007), escrita por Wasiry Guará. Em relação às conclusões parciais, o estudo permitiu entender que os autores indígenas e ilustradores das obras selecionadas utilizam algumas estratégias principais para possibilitar que se estabeleçam diálogos interculturais, das quais destacam-se: a adição de termos em línguas indígenas em textos escritos em português, marcando o lugar cultural distinto daquela produção e de seu contexto; inserção de informações sobre as culturas e povos dos quais falam as narrativas, assim como os nomes de objetos do cotidiano indígena, como forma de situar e, ao mesmo tempo, ensinar ao leitor sobre a diversidade; os reiteração de vínculos de ancestralidade, de práticas rituais e de modos particulares de pensar dos indígenas.
Palavras-chave
Estudos Culturais em Educação; Literatura infantil; Literatura Indígena.
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