Última alteração: 06-09-2018
Resumo
O traumatismo cranioencefálico (TCE) é a principal causa de morbimortalidade em indivíduos entre 1 e 44 anos. O TCE grave apresenta mortalidade de 20-70%, e 100% dos sobreviventes apresentarão alguma sequela. Uma das medidas terapêuticas para esse tipo de trauma é a craniotomia - um procedimento cirúrgico no qual um fragmento ósseo é temporariamente removido do crânio para descomprimir e reduzir a pressão intracraniana. Contudo, uma possível relação entre a realização de craniotomia e mortalidade tem gerado controvérsias em relação às indicações desse procedimento no TCE. O objetivo do presente estudo foi analisar a potencial associação entre a realização de craniotomia e a mortalidade em pacientes com TCE grave internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Luterana do Brasil. Foi feita uma análise retrospectiva de uma coorte prospectiva realizada entre outubro de 2008 e setembro de 2011, em Porto Alegre e Região Metropolitana. Foram incluídas 427 vítimas de TCE grave (GCS<9 na admissão hospitalar) admitidas nas UTIs do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, do Hospital Cristo Redentor e do Hospital de Pronto Socorro Deputado Nelson Marchezan de Canoas. Os pacientes com TCE grave, que realizaram ou não craniotomia, foram acompanhados diariamente até o desfecho: morte ou alta da UTI. A amostra foi composta por 363 (85%) homens e 64 (15%) mulheres, a maioria (58%) apresentava lesões associadas ao TCE. A idade média dos pacientes foi de 36,0±14,7 (D.P.) anos. Quanto ao mecanismo do trauma, pôde-se observar que colisão com motocicleta, atropelamento e colisão automobilística e violência foram os mais prevalentes, com 110, 86, 61 e 103 pacientes, respectivamente. A maioria dos pacientes (92%) recebeu atendimento pré-hospitalar (APH) e 56% foram intubados ainda no APH. Houve correlação entre a não realização de intubação no APH e maior mortalidade (p=0,045). As médias dos escores na GCS na admissão hospitalar foram de 5,99±1,8 entre os sobreviventes e de 5,14±1,9 (D.P.) entre os não sobreviventes e houve correlação entre escores mais baixos de GCS e a mortalidade (p<0,001). De um total de 417 casos analisados, 49% realizaram craniotomia, mas não houve correlação entre a realização de craniotomia e a mortalidade (p=0,448) ou o escore na GCS na admissão hospitalar (p=0,257). Contudo, houve correlação significativa entre a realização de craniotomia e o mecanismo de lesão (p<0,0001) e a presença de lesões associadas ao TCE (p=0,002). Apenas 23% dos pacientes tiveram a pressão intracraniana monitorizada, enquanto 53% receberam manitol. A maioria (72%) dos pacientes internados na UTI apresentou infecção. A mortalidade na UTI foi de 31%, contudo o protocolo de morte encefálica foi aplicado em apenas 30% dos pacientes que evoluíram para o óbito. Assim, foi verificado que a realização de craniotomia não apresentou correlação com a mortalidade na UTI.