Na atualidade, tem-se intensificado as discussões sobre família, sua formação e estrutura. Com a diversidade das formas familiares existentes no nosso tempo já não é possível falar em uma família única ou defender a acepção no singular – “a família” – como foi investido com o advento da modernidade. O modelo patriarcal, sustentado na união de casal heterossexual, com filhos biológicos, que prevaleceu nos discursos hegemônicos por longo tempo já não representa (se é que já representou) os arranjos familiares brasileiros. Partindo do quadro amplo e plural de arranjos familiares de nosso tempo, o presente trabalho busca apresentar e analisar as representações de família presentes nos discursos de crianças oriundas de escolas públicas de Porto Alegre. Esse estudo advém da pesquisa em andamento intitulada "Percursos e representações da infância em livros para crianças – um estudo de obras e de leituras", que conta com apoio CNPq e tem como um de seus objetivos examinar formas de leitura de algumas obras selecionadas, por turmas de crianças de escolas públicas, buscando identificar nas discussões provocadas posteriormente à leitura e nos trabalhos realizados com os alunos, as representações de infância manifestadas a partir de suas experiências prévias – no âmbito familiar, na escola, no espaço midiático. Este trabalho, em específico, se propõe a analisar como se constituem as representações de família nos discursos das crianças, fomentados pelos debates em aula ou em atividades elaboradas pelos pesquisadores. Os dados empíricos foram produzidos em sessões de leitura interativa realizadas em duas escolas da rede pública de Porto Alegre com turmas de 4º e 5º anos do Ensino Fundamental no período de 2016 a 2018. Foram selecionados 5 (cinco) títulos das sessões interativas para a análise, são eles: “Menina Nina” - Ziraldo; “Os Invisíveis” – Tino Freitas e Renato Moriconi; “As Panquecas de Mama Panya” – Mary e Richard Chamberlin; “A Viagem” – Francesca Sanna e “De Flor em Flor” - Jonarno Lawson e Sydney Smith. Examinam-se, nesse estudo, as falas das crianças durante a leitura e a exploração de cada obra e, também, as produções de texto e desenho por elas elaborados após cada sessão. As análises mostram que as representações recorrentes de família são: a ideia de família monoparental que sobressai nas falas e em alguns livros; a família heteronormativa; situações em que se identifica quebra da promessa de amor na família e a admiração pela figura da mãe como mulher forte e guerreira. Como base teórica foram buscados estudos sobre concepção de família em abordagens antropológicas e históricas (Fonseca, Del Priore) e sobre narrativas e metodologia (Cademartori, Chambers e Silveira).