Tamanho da fonte: 

Embora extremamente importante para a economia do Brasil, a fumicultura exerce um risco à saúde dos agricultores devido à exposição ocupacional aos agroquímicos e à nicotina nas lavouras de tabaco. Neste contexto, o objetivo do presente estudo foi avaliar a instabilidade genômica indicada pelo comprimento telomérico (TL) e presença de células com micronúcleos (MN) em 121 indivíduos expostos ocupacionalmente às lavouras de tabaco e 121 indivíduos não expostos.  Ainda, esses dados foram correlacionados com a suscetibilidade individual quanto a dois genes de Reparo por Excisão de Base- Via BER (OGG1 e XRCC1)- e de um gene metabolizador de organofosforados (PON1). Ambos os grupos foram selecionados na região do Vale do Rio Pardo- RS e pareados por gênero e idade. Amostras de sangue foram coletadas, sendo dosados níveis de cotinina plasmática por HPLC-UV e, em sangue total seco, foram determinados os elementos inorgânicos pelo método de PIXE. Também em sangue total, foi extraído DNA dos indivíduos pelo método salting- out, e em seguida foi realizada PCR e clivagem com enzimas de restrição específicas para cada polimorfismo do estudo. As amostras foram aplicadas em gel de poliacrilamida submetido a um campo de eletroforese, e posteriormente corado com nitrato de prata para verificar as frequências alélicas. O comprimento telomérico foi avaliado através de qPCR. Foram coletadas amostras de células bucais com cytobrush’s, as quais foram imersas em Solução de Saccomano até o processamento do Teste de Micronúcleos de Mucosa Oral (BMCyt) no laboratório. Foram analisadas 2.000 células por indivíduo, verificando-se a frequência de MN. Como resultados, observou-se aumento significativo de cotinina (principal metabólito da nicotina) e dos elementos inorgânicos Cl, P, S e Zn no grupo exposto em relação ao não exposto, que confirmam a exposição e podem levar a danos ao DNA. O grupo exposto apresentou maiores frequências de MN e redução do comprimento telomérico quando comparado ao grupo não exposto. Dentro do próprio grupo exposto, verificou-se que fumicultores com genótipo PON1 Gln/Gln apresentaram maiores índices de MN em relação aos que portavam o alelo Arg. Ainda em relação aos fumicultores, observou-se um efeito protetor nos indivíduos com genótipo XRCC1 Arg/Arg tanto para as frequências de MN como para tamanho telomérico, o qual também foi influenciado positivamente pelo alelo OGG1 -/Cys. Sendo assim, nosso estudo evidencia danos genotóxicos devido à exposição ocupacional na fumicultura. Ainda, propõe que PON1 desempenhe um papel no sistema de metabolização xenobiótica em agricultores, enquanto que a Via BER pode ser o principal mecanismo de reparo envolvido na instabilidade genômica sofrida pelos produtores de tabaco.

Micronúcleos; suscetibilidade individual; telômeros; fumicultura.