Última alteração: 04-09-2017
Resumo
DESEMPENHO BIOECONÔMICO DE TRÊS PROTOCOLOS UTILIZADOS NA INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL EM TEMPO FIXO EM NOVILHAS DE CORTE.
Carlos S. Gottschall – Docente dos cursos de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)
Camila V. – Acadêmica do curso de Medicina Veterinária da ULBRA e bolsista de IC PROBIC da Fapergs
Resumo: O presente trabalho teve por objetivo avaliar o desempenho biológico e econômico de três diferentes protocolos utilizados para a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) em novilhas de corte. Foram utilizadas 267 novilhas da raça Braford e cruzas submetidas à IATF aos dois anos de idade. O peso médio e o ECC das novilhas ao início do experimento foram, respectivamente, de 295,7 kg e 3,3. A distribuição dos animais se deu de forma aleatória e casual formando três grupos. O Grupo-I (OvSynch+P4) com 139 novilhas, consistiu, no dia zero (D0), na aplicação de 0,01 mg de GnRH e inserção de um dispositivo intravaginal de progesterona (P4 - DIP) de 1 grama, previamante usado. No sétimo dia (D7), por ocasião da remoção do DIP, aplicou-se uma dose de 0,35 mg de prostaglandina (PGF2α). No nono dia (D9), 48 h após a remoção do DIP foi aplicada nova dose de 0,01 mg de GnRH. Oito horas após o GnRH, ainda no D9 a tarde foi realizada a IATF. Grupo–II (OvSynch+P4/ modificado com BE), com 67 novilhas consistiu na aplicação de 2,0 mg de benzoato de estradiol (BE) e inserção de um DIP de 1 grama, previamente usado por duas vezes, no dia zero (D0). No sétimo dia (D7), por ocasião da remoção do DIP, aplicou-se uma dose de 0,35 mg de prostaglandina (PGF2α). No nono dia (D9), 48 h após a remoção do DIP foi aplicada nova dose de 0,01 mg de GnRH. Oito horas após o GnRH, ainda no D9 foi realizada a IATF. Grupo-III (PEPE) com 61 novilhas consistiu no dia 0 aplicação de 2mg de BE e inserção do implante intravaginal novo com 1 grama de progesterona. No oitavo dia (D8) remoção do implante e aplicação de 0,39mg de PGF2α. 24 horas depois aplicação de 1 mg de BE e 52-56 horas após a remoção do DIP a IATF. Sete dias após a IATF, as novilhas foram expostas ao repasse com touros aprovados por exame andrológico, na proporção de 1 touro para 40 novilhas por mais 45 dias. Quarenta dias após a IATF e 60 dias após a retirada dos touros foram realizados respectivamente, os diagnósticos de gestação por palpação trans-retal para a determinação da prenhez à IATF e prenhez final. As taxas de prenhez (IATF e Final) foram testadas pelo teste Qui-quadrado, a uma significância de 5%. A composição dos desembolsos da IATF foi constituída por valores de mercado (agosto/2017). As taxas de prenhez à IATF foram, respectivamente, de 58,3%, 64,2% e 49,2% para os grupos I, II e II, sem diferença estatística. O custo por prenhez para os respectivos grupos foi de R$ 58,30, R$ 64,20 e R$ 49,20. A taxa de prenhez final do Grupo-I foi de 89,9%, do Grupo-II de 83,6% e do Grupo-III de 90,2%, sem diferença significativa (P<0,05). A prenhez à IATF e a prenhez final mostraram-se satisfatórias. A substituição da primeira dose de GnRH por BE no protocolo OvSynch modificado mostrou-se interessante sobre o ponto de vista econômico.
Palavras-chave: Custos, Eficiência, Prenhez, Reprodução
Introdução
A eficiência econômica em rebanhos de cria de bovino de corte está diretamente relacionada à resposta reprodutiva, com o objetivo de obter um bezerro por vaca/ano (ROSSA, 2009). A prática da inseminação artificial em tempo fixo contribui para esse objetivo (BARUSELLI, 2004). Além de eficiência biológica também busca-se eficiência econômica na escolha e aplicação de diferentes protocolos para a IATF. (GOTTSCHALL; SILVA, 2014).
Diferentes fármacos combinando dispositivos de progesterona, GnRH, prostaglandina e estrógenos se mostraram eficazes na sincronização do estro e da ovulação permitindo assim a realização da IATF (BÓ et al., 2002). Entretanto, o GnRH é um hormônio com custo mais elevado em comparação a alternativas como o benzoato de estradiol (BE), podendo onerar os tratamentos.
Deste modo, o presente trabalho tem por objetivos (1) avaliar o desempenho bioeconômico de diferentes protocolos de IATF que associam GnRH e BE a um DIP reutilizado e (2) o impacto dos resultados destes tratamentos sobre a resposta reprodutiva de novilhas de corte ao final da estação de acasalamento.
Metodologia
Foram avaliadas 267 novilhas da raça Braford e cruzas, acasaladas aos dois anos de idade, submetidas a três diferentes protocolos de IATF e repassadas com touros sete dias após a IATF, por mais 45 dias. As novilhas foram pesadas individualmente, tiveram a condição corporal (CC) estimada em uma escala de 1 (muito magra) a 5 (muito gorda). O peso médio e o ECC das novilhas ao início do experimento foram, respectivamente, de 295,7 kg e 3,3. As novilhas foram divididas aleatoriamente em três grupos e protocolos. Grupo-I (OvSynch+P4) composto por 139 novilhas, foram submetidos ao protocolo Ovsynch, modificado pela inclusão de um DIP de 1g, previamante usado (2º uso) (Figura 1). O protocolo aplicado no Grupo-II (OvSynch+P4/ modificado com BE), composto por 67 novilhas, diferiu do Grupo-I no número de usos do DIP, este reutilizado por duas vezes (3º uso) e pela substituição da primeira dose de GnRH por uma de BE (Figura 2). O Grupo-III (PEPE), composto por 61 novilhas, consistiu na aplicação de BE e inserção de um DIP de primeiro uso (Figura 3), retirado em 8 dias. Por ocasião da remoção do DIP foi aplicada a PGF e 24 horas após a remoção do DIP uma nova aplicação de BE, com IATF 30 h após a aplicação do BE.
O sêmen utilizado para a realização da IATF foi proveniente de três diferentes touros, distribuídos ao acaso entre os tratamentos, sem diferença estatística entre eles (P>0,05).
GnRH PGF2α
GnRH IATF
8 horas
D0 D7 D9(manhã) D9(tarde)
Figura 1. Fluxograma do protocolo aplicado no grupo OvSynch+P4.
PGF2α: Prostaglandina F2α
BE PGF2α
GnRH IATF
8 horas
D0 D7 D9(manhã) D9(tarde)
Figura 2. Fluxograma do protocolo aplicado no grupo OvSynch+P4/ modificado com BE.
BE PGF2α
BE IATF
D0 D8 D9(manhã) D10(tarde)
Figura 3. Fluxograma do protocolo aplicado no grupo PEPE.
Sete dias após a IATF, as novilhas foram expostas ao repasse com touros múltiplos na proporção de 1/40. Para determinação da prenhez à IATF e final se realizou diagnósticos de gestação, respectivamente, 40 dias após a inseminação e 60 dias após a retirada dos touros para determinação da prenhez à IATF e prenhez final.
A composição dos desembolsos com insumos e serviços foi constituída por valores reais de mercado correspondentes ao período de análise (agosto/2017). O valor atribuído ao DIP novo foi de R$ 14,00 (podendo ser usado até três vezes). O valor do ml de PGF foi de R$ 1,70. O valor do ml do BE foi de R$ 0,20. O valor do ml de GnRH foi de R$ 2,80. O custo atribuído ao processo da inseminação (sêmen, luvas, bainhas, inseminador) foi de R$ 20,00 por novilha inseminada. Tabela 1.
Tabela 1. Custo por novilha inseminada conforme o protocolo
Grupo
Protocolos
Material
Total
Grupo I
R$ 21,22
R$ 20,00
R$ 41,22
Grupo II
R$ 14,62
R$ 20,00
R$ 34,62
Grupo III
R$ 7,82
R$ 20,00
R$ 27,82
O custo por prenhez foi calculado através da divisão do custo por novilha inseminada (Tabela 1) dividido pelo percentual de prenhez a IATF, constante nos resultados.
Resultados e Discussão
O percentual de animais prenhes à IATF e ao final da estação de acasalamento em cada protocolo foi respectivamente, 58,3% e 89,9%; 64,2% e 83,6%; 49,2% e 90,2% para OvSynch+P4, OvSynch+P4/ modificado com BE e PEPE (Gráfico 1), sem diferença entre os protocolos para a prenhez à IATF e prenhez final (P<0,05).
O custo por prenhez à IATF está exposto na tabela 2.
Tabela 2. Custo da prenhez por grupo de protocolo.
Grupo
Valor por prenhez-1
OvSynch+P4
R$ 70,70
OvSynch+P4/ modificado com BE
R$ 53,93
PEPE
R$ 56,54
1-Calculado através da divisão do custo por novilha inseminada dividido pelo percentual de prenhez a IATF.
Conclusões
Os resultados de prenhez à IATF e prenhez final mostraram-se satisfatórios, sem diferença estatística entre os grupos. A substituição da primeira dose de GnRH por BE no protocolo OvSynch modificado mostrou-se interessante sobre o ponto de vista econômico.
Referências
BARUSSELI, Pietro S.; REIS, Everton L. Inseminação artificial em tempo fixo em bovinos de corte. In: 1º O SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE REPRODUÇÃO ANIMAL APLICADA. Londrina-PR, p. 155-165.
BÓ, Gabriel A.; CUTAIA, Lucas; TRÍBULO, R. Tratamientos hormonales para inseminación artificial a tiempo fijo em bovinos para carne: algumas experiencias realizadas em Argentina. Sitio Argentino de Producción Animal, v.4, n.14, p.10-21, 2002.
GOTTSCHALL, Carlos Santos; SILVA, Leonardo Rocha da. Análise econômica de diferentes protocolos para inseminação artificial em tempo fixo em novilhas de corte. Veterinária em Foco, v.11, n.2, jan/jun. 2014.
ROSSA, Luis Augusto Ferreira. Efeito do eCG ou benzoato do estradiol associado ao norgestomet na taxa de concepção de vacas de corte submetidas à IATF no pós-parto. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, São Paulo, v. 46, n. 3, p. 199-206, 2009.