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Este estudo analisa a importância da cultura material na construção de identidadesfamiliares após a enchente de 2024 no estado do Rio Grande do Sul, bem comoinvestiga a cultura material de forma significativa no cotidiano dessas pessoas. Apartir de uma revisão bibliográfica, o trabalho desenvolve uma pesquisa qualitativa,realizada com a família Camar Büsse, residente no bairro Mato Grande, em Canoas,município gravemente afetado pela inundação. Objetos como álbuns de fotografias,convites de formatura, roupas de recém-nascidos e relíquias da família foramdanificados ou perdidos, rompendo com narrativas interpessoais. Através deentrevistas e observações, compreendeu-se como esses itens desempenhavam umpapel central na preservação de memórias e na construção de laços entre gerações,além de contribuírem para a criação de uma identidade familiar. A perda dessesartefatos, como indicam os resultados, foi vivida de forma análoga a um processo deluto de um familiar, à perda de parte da própria identidade, uma vez que tais itensnão eram apenas bens funcionais, mas testemunhos de vida e concretizadores derememorações geracionais. O estudo também reflete sobre a ressignificação dessesbens, focando naqueles que foram danificados, especialmente sob a perspectiva dareconstrução do presente e da criação de novas lembranças. As teorias dohistoriador Pierre Nora sobre "lugares de memória" e as ideias da neuropsicólogaCristiane Siqueira Miranda sobre a conexão emocional com os objetos desde ainfância foram justapostas às experiências relatadas pela família entrevistada. Asrecordações afetivas, antes e depois de tragédias como essa, tornam-se tangíveispor meio da cultura material, que transcende sua função original, como exemplifica aresiliência da família Camar Büsse ao tentar preservar objetos de valor identitário.Palavras-chave: Cultura material; Identidade; Memória; Enchentes de 2024; RioGrande do Sul.