Última alteração: 24-08-2018
Resumo
Introdução
Estudos transversais e escassos estudos de coorte têm sugerido associação entre aleitamento materno e uso de chupeta. O aleitamento materno é de fundamental importância para a saúde e manutenção do bem estar da criança, com diversos benefícios bem documentados na literatura. Já o uso da chupeta é elevado no Brasil e em diversos países, com importante impacto na saúde infantil, como interrupção precoce do aleitamento materno, má oclusão e otite média. Entretanto, a natureza e direção da associação entre estas práticas não está esclarecida e depende de estudos longitudinais prospectivos com adequado tamanho amostral. O esclarecimento do sentido e força de associação entre aleitamento materno e uso de chupeta pode contribuir para a elaboração de orientações e políticas que promovam a saúde infantil.
Objetivos
O objetivo do estudo é investigar e quantificar a associação entre aleitamento materno e uso de chupeta em crianças do sul do Brasil.
Metodologia
Este estudo tem como delineamento uma coorte prospectiva, integrada em um ensaio clínico randomizado, cadastrado nos registros de base de ensaios clínicos clinicaltrials.gov NCT00635453. A investigação compreendeu crianças captadas ao nascimento em Porto Alegre/RS, cujas mães compareceram a Unidades Básicas de Saúde durante a gestação, quando foram coletados dados demográficos e socioeconômicos. Coleta de dados logo após o nascimento (tipo de parto, peso e comprimento), aos 6 e 12 meses da criança permitiram determinar exposição e desfecho no sentido AM/chupeta (tempo de AM<1 mês e uso de chupeta no primeiro ano de vida) e no sentido chupeta/AM (introdução de chupeta no primeiro mês e AM exclusivo aos 4 meses). Neste trabalho são apresentados os resultados iniciais, que exploram os fatores de risco para utilização de chupeta. Análise estatística incluiu teste qui-quadrado e regressão de Poisson com variância robusta.
Resultados
Das crianças da amostra (n=623), 92,3% tiveram pelo menos 1 mês de AM, mas apenas 24,3% atingiram 4 meses de AM exclusivo, enquanto que 39% usaram chupeta já no primeiro mês de vida e 64,5% ao longo do primeiro ano. A utilização de chupeta foi significativamente maior em crianças que não tiveram ou interromperam no primeiro mês o aleitamento materno (85,4%) comparado com crianças que tiveram pelo menos um mês de aleitamento materno (58,0%) (p<0,001). A análise bruta demonstrou que o risco da criança utilizar chupeta foi quase 50% maior em crianças que interromperam precocemente o aleitamento materno (RR 1,47; IC 95% 1,29-1,69). Não houve associação entre variáveis demográficas e socioeconômicas com o desfecho.
Conclusões parciais
Concluiu-se, até o momento, que há forte relação no sentido aleitamento materno/chupeta, indicando caminhos para estratégias de orientação de gestantes para reduzir a utilização de chupeta e seus efeitos que prejudicam a saúde infantil.