Portal de Eventos da ULBRA., XIX FÓRUM DE PESQUISA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA (CANOAS)

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AMBIÊNCIAS TECNOLÓGICAS NO DESKTOP HORROR
Ana Maria Acker

Última alteração: 10-09-2019

Resumo


A partir da pesquisa sobre experiência estética no cinema de horror contemporâneo, a proposta investiga transformações de estilo, ambiências tecnológicas (GUMBRECHT, 2014) e sensações com o desconhecido (CLASEN, 2017[1]; THACKER, 2011 e 2015) no subgênero desktop horror ou screenlife/social media horror (LARSEN, 2019). Esses filmes se apresentam por interface de computador ou múltiplas telas e demandam uma atenção particular aos planos e respectivos limites (LARSEN, 2019), uma vez que vários quadros narrativos se abrem em situação familiar à experimentada pelos espectadores em artefatos de uso cotidiano. Tais realizações podem ser categorizadas, ainda, como falsos found footage de horror. Amizade Desfeita 2Dark Web (2018), de Stephen Susco, é a produção para a análise da fruição estética e seus desdobramentos tecnológicos. Essa visualidade leva a um achatamento da imagem e se descola da tradição da perspectiva ou câmera subjetiva diegética, algo comum nos falsos registros documentais. Ao discutir aspectos da experiência estética, Gumbrecht aborda o conceito de Stimmung, que em inglês pode ser entendido como mood (ambiência) e climate (clima, atmosfera). Essas atmosferas sensíveis “[...] Apresentam-se a nós como nuances que desafiam nosso poder de discernimento e de descrição, bem como o poder da linguagem para as captar” (GUMBRECHT, 2014, p. 12). As interfaces tecnológicas da web, adaptadas para o gênero horror, constituem uma ambiência de estranhamento e desconforto, muito mais do que de medo. O filme de Susco repete a configuração que consagrou o predecessor - Amizade Desfeita (2014), de Levan Gabriadze – porém abandona a temática sobrenatural do primeiro filme, com o espírito vingativo na rede virtual, para adentrar no universo obscuro da Dark Web – apropriação criminosa da internet por meio do uso de protocolos não rastreados. Essas ações ocorrem pela Darknet, que não necessariamente é ilegal. As manifestações nebulosas pela rede acontecem por sistemas criptografados, com roteamento anônimo, poucas aplicações e visibilidade escondida (AKED; BOLAN; BRAND, 2013). Em Amizade Desfeita 2, a web profunda possui aspectos ainda mais sinistros que envolvem vigilância, jogos sádicos e assassinato. O que assombra o conceito de escuridão no horror é a possibilidade de pensar o impossível (THACKER, 2015). Há um limite para o conhecimento humano, algo inalcançável. “Isso sugere que não há nada fora, e que este nada-fora é absolutamente inacessível [...].” (THACKER, 2015, p. 42). Já Clasen (2017) observa resquícios de um comportamento primitivo no temor do escuro: “[...] quando as pessoas falam sobre medo do escuro, eles geralmente querem se referir ao medo de quais perigos podem se esconder no escuro” (CLASEN, 2017, p. 32). A internet profunda em Amizade Desfeita 2 traz percepções de um limite cognitivo para o desconhecido do mundo, no caso em estudo: o abismo da rede.


[1] CLASEN, Mathias. Why Horror Seduces. New York, USA: Oxford University Press, 2017.

A partir da pesquisa sobre experiência estética no cinema de horror contemporâneo, a proposta investiga transformações de estilo, ambiências tecnológicas (GUMBRECHT, 2014) e sensações com o desconhecido (CLASEN, 2017[1]; THACKER, 2011 e 2015) no subgênero desktop horror ou screenlife/social media horror (LARSEN, 2019). Esses filmes se apresentam por interface de computador ou múltiplas telas e demandam uma atenção particular aos planos e respectivos limites (LARSEN, 2019), uma vez que vários quadros narrativos se abrem em situação familiar à experimentada pelos espectadores em artefatos de uso cotidiano. Tais realizações podem ser categorizadas, ainda, como falsos found footage de horror. Amizade Desfeita 2Dark Web (2018), de Stephen Susco, é a produção para a análise da fruição estética e seus desdobramentos tecnológicos. Essa visualidade leva a um achatamento da imagem e se descola da tradição da perspectiva ou câmera subjetiva diegética, algo comum nos falsos registros documentais. Ao discutir aspectos da experiência estética, Gumbrecht aborda o conceito de Stimmung, que em inglês pode ser entendido como mood (ambiência) e climate (clima, atmosfera). Essas atmosferas sensíveis “[...] Apresentam-se a nós como nuances que desafiam nosso poder de discernimento e de descrição, bem como o poder da linguagem para as captar” (GUMBRECHT, 2014, p. 12). As interfaces tecnológicas da web, adaptadas para o gênero horror, constituem uma ambiência de estranhamento e desconforto, muito mais do que de medo. O filme de Susco repete a configuração que consagrou o predecessor - Amizade Desfeita (2014), de Levan Gabriadze – porém abandona a temática sobrenatural do primeiro filme, com o espírito vingativo na rede virtual, para adentrar no universo obscuro da Dark Web – apropriação criminosa da internet por meio do uso de protocolos não rastreados. Essas ações ocorrem pela Darknet, que não necessariamente é ilegal. As manifestações nebulosas pela rede acontecem por sistemas criptografados, com roteamento anônimo, poucas aplicações e visibilidade escondida (AKED; BOLAN; BRAND, 2013). Em Amizade Desfeita 2, a web profunda possui aspectos ainda mais sinistros que envolvem vigilância, jogos sádicos e assassinato. O que assombra o conceito de escuridão no horror é a possibilidade de pensar o impossível (THACKER, 2015). Há um limite para o conhecimento humano, algo inalcançável. “Isso sugere que não há nada fora, e que este nada-fora é

absolutamente inacessível [...].” (THACKER, 2015, p. 42). Já Clasen (2017) observa resquícios de um comportamento primitivo no temor do escuro: “[...] quando as pessoas falam sobre medo do escuro, eles geralmente querem se referir ao medo de quais perigos podem se esconder no escuro” (CLASEN, 2017, p. 32). A internet profunda em Amizade Desfeita 2 traz percepções de um limite cognitivo para o desconhecido do mundo, no caso em estudo: o abismo da rede.


[1] CLASEN, Mathias. Why Horror Seduces. New York, USA: Oxford University Press, 2017.


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