Portal de Eventos da ULBRA., XIV FÓRUM DE PESQUISA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA (Canoas)

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REPRESENTAÇÕES DE FEMININO OU PRÁTICAS DE RACISMO?
João Carlos Amilibia Gomes

Última alteração: 22-10-2014

Resumo


Na contemporaneidade as questões de gênero têm “significativa” importância, especialmente no campo pedagógico. Considerando que na educação brasileira os livros didáticos e as apostilas dos sistemas de ensino são utilizados em “larga medida” nos processos de ensino-aprendizagem, atento às representações de gênero que se encontram nas construções histórico-discursivas de tais artefatos pedagógicos. Problematizo representações de feminino nas narrativas históricas – ambas de autoria de Gislane Campos Azevedo e de Reinaldo Seriacopi – do livro didático intitulado História – Ensino Médio/volume único – publicado em 2007 e das apostilas da disciplina de História – Ensino Médio – do sistema de ensino SER também publicadas em 2007. As reflexões são desenvolvidas no campo dos Estudos Culturais que possibilitam imaginar materiais como os livros didáticos e as apostilas como artefatos pedagógicos que produzem significados em meio a redes de poder e verdade, discursivamente tecidas. Em tal campo os textos pedagógicos podem ser pensados como espaços nos quais o significado é negociado e fixado, expressando contingentemente, o predomínio de interesses de determinados grupos sociais. À medida que os Estudos Culturais não adotam uma posição teórica e metodológica específicas, valho-me de estudos de diversos campos, como da História, dos estudos de Gênero, de imagens, da teorização foucaultiana e de abordagens que se desenvolvem no âmbito da história do livro. Por um lado, há de salientar que os livros didáticos são reconhecidos dentro e fora da escola como lugares de verdades cientificamente estabelecidas, por outro lado as apostilas que se encontram nos kits de produtos e serviços dos sistemas de ensino – organizações marcadamente mercantis que oferecem um ensino em rede endereçado às escolas privadas e públicas – têm ocupado espaços que outrora foram dos primeiros. Imagino os referidos livros e as citadas apostilas como artefatos pedagógicos materializados com textos articulados a partir de diferentes linguagens, nos quais de (re)criam representações de gênero que podem contribuir para a constituição de determinados sujeitos “reais”. Assim, utilizo o conceito de gênero no sentido de explicitar que não há um modo natural de ser mulher, bem como para enfatizar que as representações de mulheres e homens são construções socioculturais, históricas. Desenvolvo duas categorias de análise para articular a problematização das representações de gênero nos artefatos pedagógicos em questão: representações de mulheres não-européias não-ocidentais e representações de mulheres envolvidas com práticas de trabalho. As representações de feminino nas narrativas históricas que se encontram no livro didático e nas apostilas analisadas colaborariam para a (re)criação de construções histórico-discursivas nas quais o masculino é hegemônico. Em tais narrativas se encontraria um racismo de tipo diferencialista.