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Sabe-se, a partir dos estudos de Ariès (1981), que os retratos de crianças e as representações das infâncias foram sendo inseridas timidamente na história, na direção do que o autor chamou uma possível “invenção” da infância. Nesse sentido, podemos compreender que as imagens foram, e ainda são, importantes ferramentas na produção e circulação dos sentidos e dos significados atribuídos a essas invenções de formas de ser e viver a infância. A partir das lentes teóricas dos Estudos Culturais, a pesquisa busca identificar as infâncias representadas por Luiz Nascimento Ramos, o Lunara, no álbum Vistas de Porto Alegre – Fotografias Artísticas, produzido pelos Editores Krahe & Cia, por volta do ano de 1900. O álbum possui 20 fotografias, registradas em Porto Alegre, observa-se então, 10 fotografias contendo representações de crianças e apenas quatro delas são registros de crianças sozinhas. Conforme Simões, (2020), tais artefatos trazem toda uma gama de intencionalidades que estão presentes tanto em seu formato como no seu conteúdo. Logo, o fato de o artista apresentar registros de um cotidiano popular nos arrabaldes da cidade em meio às transformações urbanísticas que conduziam Porto Alegre na direção do tão almejado progresso, nos instiga a ver suas fotografias como um texto cultural, no qual são produzidas formas de ensinar e de aprender, configurando-se como locais pedagógicos (STEINBERG, 1997). A partir da análise cultural, compreendemos que não exista uma única infância, isto é, ser criança difere de acordo com o espaço e tempo (ZUCCHETTI; BERGAMASCHI, 2007). Os registros de Lunara viabilizam representações feitas sobre a infância vivida nas cercanias da cidade, locais em que o tempo parece cumprir uma outra lógica, aparentemente alheia às transformações urbanísticas por que passava a cidade naquele período.