Última alteração: 01-11-2023
Resumo
As Orquestras Jovens são atividades musicais que se caracterizam pela prática em grupo, na formação de orquestra e com a participação de crianças e jovens, via de regra, entre 8 e 20 anos de idade. Em sua maioria as Orquestras Jovens são financiadas pelas Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). No Brasil, as Orquestras Jovens, com esta configuração de faixa etária e financiamento, são resultado de empenho de profissionais da área da música e gestão de projetos desde os anos 90, quando o neoliberalismo toma força através de práticas inclusivas, por exemplo. A investigação1 realizada teve como objetivo analisar textos escritos pelos proponentes que justificam o financiamento do projetos e tensionar a emergência desta prática musical em nossa sociedade a partir da perspectiva foucaultiana, a qual, oferece ferramentas e conceitos como o de governamentalidade neoliberal, disciplina, biopolítica, capital humano, entre outros. Também, problematizar o perfil de sujeito que pretende formar sendo esta uma prática inclusão social. A metodologia realizada na análise foi a leitura dos textos, acessados pela plataforma VERSALIC2 onde se encontram objetivos, justificativas e outras informações sobre os projetos inscritos no sistema de financiamento para a realização da atividade de Orquestra Jovem. O estudo selecionou excertos de 17 projetos em uma leitura analítica em eixos como a estratégia de gestão de risco, inclusão produtiva e estratégia de moralização. O risco social foi apontado em excertos uma vez que há uma associação entre as condições financeiras dos integrantes e a predestinação ao risco social que participam; a inclusão produtiva reforça o imperativo da participação no consumo e no trabalho a partir de um capital humano que se desloca de condições de vulnerabilidade para um status social de sustentação através de bolsas e ou assistência; a moralização da juventude pobre é percebida ao ler excertos que trazem o desempenho escolar, o afastamento do uso de drogas e a preparação para o trabalho como objetivos desta prática musical para contribuir com o meio social. Assim, nesta análise foi possível perceber que os excertos produziram uma realidade discursiva que se alinha com a condução das condutas da juventude pobre, narrada como vulnerável, e que pode ser conduzida a partir de preceitos pensados para a juventude brasileira.
Palavras-chave: orquestra jovem; governamentalidade neoliberal; inclusão.
1 Dissertação de Mestrado do Autor no ppgedu Ulbra – 2020.
2 http://versalic.cultura.gov.br/