Última alteração: 26-10-2023
Resumo
Neste texto, tomamos como inspiração duas obras do psiquiatra e militante negro Frantz Fanon. A primeira, “Sobre a violência”, do livro Os condenados da terra, faz uma análise acurada do processo de descolonização enquanto movimento libertador para o povo colonizado. É descrito em detalhes a relação entre colono e colonizado e como a violência está presente nas instâncias: econômica, política, cultural, religiosa e intelectual (epistemológica). A segunda, “A experiência vivida do negro”, do livro Pele negra, máscaras brancas, aborda a resistência e a riqueza da experiência negra. Enfatiza a vitalidade e a autenticidade da emoção negra, em contraste com a racionalidade branca. E ainda considera que enquanto o branco quer possuir o mundo, o negro é o mundo, está de igual para igual com ele, a relação que o branco tem com o mundo é concebida pelo autor como apropriativa, escravizatória. Tais reflexões, partem de uma pesquisa de mestrado em Educação cuja temática versa sobre formações de identidades negras, trazem apontamentos da bibliográfica que servirá de referencial teórico na análise do artefato cultural, o episódio inicial da série “The Fresh Prince of Bel-Air”, traduzida no Brasil para “Um maluco no pedaço”, seriado exibido no Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) dos anos 2000 a 2013. Em 2022, o seriado passou a ser reexibido retornando à grade da programação aos sábados. O objetivo é analisar a relação do personagem de Will com a família Banks a partir dos escritos de Fanon. Sob a perspectiva teórica pós-estruturalista dos Estudos Culturais em Educação, autores como Bell Hooks (2019), Frantz Fanon (2020; 2022), Liv Sovik (2009) e Stuart Hall (2007) são centrais. No episódio um da série, Tio Phil busca transformar o jovem negro Will à imagem de Carlton, resultando em um conflito onde Will resiste com humor. Isso reflete as ideias de Fanon sobre violência cultural e os papéis de colono e colonizado. Além disso, a série aborda o processo de branqueamento da família Banks, contrastando com a autenticidade de Will, que traz vitalidade à dinâmica familiar. Os Banks, como parte deste processo de branqueamento, estabeleceram uma relação apropriativa em relação a Will. Este, por sua vez, procurou viver a partir de sua cultura e suas raízes, como o negro descrito pelo amigo de Fanon que tem “alimento humano” para repartir com os brancos.
Palavras-chave: branqueamento; decolonização; Fanon; Estudos Culturais.