O texto deriva de pesquisa mais ampla, a nível de mestrado, que analisa a constituição das identidades infantojuvenis no filme A Família Addams, lançado pela primeira vez como uma série de televisão em 1964 e, posteriormente, adaptado para filmes e outras mídias. A Família Addams representa uma família fictícia, conhecida por sua excentricidade, estilo de vida sombrio e valores não convencionais, alertando para a necessidade de olhar com estranhamento as normas sociais tradicionais que ditam os modos como os sujeitos devem ser, pensar e agir para serem aceitos na sociedade em que vivemos. Assim, com base nas teorizações do campo dos Estudos Culturais, de caráter pós-estruturalista, propõe-se, neste estudo, examinar como se constituem as identidades infantis e juvenis no filme A Família Addams e os possíveis enquadramentos e tensionamentos aos padrões identitários convencionais. Para o estudo proposto, optou-se por uma análise cultural, partindo do pressuposto de que as identidades se constituem a partir dos discursos e práticas que tentam nos interpelar para que assumamos nosso lugar como sujeito (Hall, 2001). A cultura, nesse sentido, compreendida como um sistema de significações mediante o qual uma dada ordem social é comunicada, reproduzida, vivenciada (Williams, 1992) ou, no caso do filme A Família Addams, contestada. A constatação de uma ordem social contestada pode ser observada, entre outros aspectos, nas falas e comportamentos dos adolescentes Wednesday (uma menina rebelde e intelectual) e Pugsley (menino travesso e aficionado por destruição), personagens que figuram como irmãos, filhos do casal Morticia e Gomez Addams. Os adolescentes são representados como questionadores dos padrões convencionais e suas ações, frequentemente, desafiam as normas sociais estabelecidas. A pesquisa mostrou como o filme lida com a imprevisibilidade das identidades infantojuvenis, bem como as maneiras pelas quais essas identidades podem entrar em conflito com as expectativas sociais. Os personagens assumem suas identidades sem se preocuparem com a conformidade social, rejeitando o preconceito e a intolerância, acolhendo os diferentes e vivendo de acordo com as próprias regras.
Palavras-chave: Juventude; Identidade; Estudos Culturais.