Última alteração: 25-10-2023
Resumo
A Educação financeira vem ganhando destaque ultimamente por meio de múltiplos instrumentos. Esta pesquisa tem como objetivo analisar a forma como o tema da Educação Financeira (EF) é mobilizado pelo quadro Guetonomia, do canal de YouTube Do Por Quê?, cujo público-alvo é composto por moradores periféricos das metrópoles urbanas. Mais especificamente, busca identificar que estratégias são utilizadas para conduzir as condutas do público do canal para lidar com suas finanças e com qual objetivo. Pautado no referencial dos estudos foucaultianos, o quadro teórico-metodológico foi construído a partir dos conceitos de governamento e governamentalidade. O direcionamento para sujeitos de baixa renda fica caracterizado não apenas pelo próprio nome do quadro, assumindo estar direcionado para quem vive no gueto, como também pelo tipo de problemas abordados e de investimento recomendado. As análises mostram que o canal busca conduzir as condutas de sua audiência no sentido de que, mesmo com baixa renda, é possível não apenas deixar de contrair dívidas, como separar parte dos parcos rendimentos para investimentos. O tipo de linguagem e de explicação bastante superficial, sinalizam um entendimento de que esses sujeitos do gueto estão em situação de completa ignorância sobre o sistema financeiro e que precisam de informações básica para uma melhor gestão do dinheiro. Entretanto, em alguns vídeos do canal, já é possível encontrar informações mais sofisticadas, sugerindo até mesmo investimentos em bolsa, o que mostra que os influenciadores consideram que suas estratégias estão sendo bem sucedidas e que os sujeitos periféricos gradativamente tornam-se mais capazes de lidar com as finanças. Assim, é possível concluir que o canal conquista o público por meio do uso de uma linguagem explicativa, que mescla informalidade e humor. O quadro em questão pretende, sutilmente, realizar o governamento desses sujeitos periféricos, visando ajustar suas condutas para que se tornem financeiramente autônomos e responsáveis, por meio da conscientização dos riscos da má gestão financeira e da orientação para que possam, no limite, passarem de devedores a investidores.