Última alteração: 22-11-2022
Resumo
Políticas de ações afirmativas na pós-graduação vêm sendo instituídas em grande parte das universidades públicas brasileiras, especialmente a partir de 2016, potencializando a presença de estudantes indígenas em cursos de mestrado e doutorado. Esta presença institui novas dinâmicas, amplia o leque de discussões, análises e problematizações na pesquisa acadêmica e promove deslizamentos nas usuais formas de organizar, orientar e conduzir o trabalho investigativo. O objetivo principal da presente pesquisa é analisar as pedagogias da presença indígena em programas de pós-graduação em Educação de universidades brasileiras, buscando entender se/como ela tensiona campos de saber, promove novos temas, problemas e abordagens que reverberam nos modos de narrar o campo educativo. A presença indígena pode ser vista por seu caráter estratégico, na medida em que traça outros caminhos para a construção do conhecimento científico, respaldando-se, quando possível, em epistemologias e formas de narrar o mundo dos povos originários e instituindo práticas culturais contra-hegemônicas e anticolonialistas. A metodologia é de base qualitativa, inspira-se na cartografia sociocultural e diz respeito a um mapeamento da presença indígena na produção do conhecimento acadêmico. A pesquisa prevê seleção e análise dos textos publicados por mestres e doutores indígenas, com vistas a entender como se estabelecem estratégias de representação, possíveis vinculações da pesquisa com lutas comuns aos povos indígenas, afirmação das ciências e conhecimentos ancestrais, diálogos interculturais e modos de narrar o processo educativo. Alguns procedimentos iniciais foram adotados, de modo a estabelecer o contexto do estudo. Como achados iniciais indica-se que há pelo menos 35 universidades federais brasileiras que aprovaram, por meio de seus Conselhos Universitários ou órgãos assemelhados, resoluções específicas que definem e regulamentam as ações afirmativas na pós-graduação. Assim, o universo inicial para procedimentos cartográficos consistirá de 35 programas de pós-graduação em educação, cinco de cada região brasileira. Neste amplo conjunto, pretende-se identificar pesquisas de mestrado e doutorado realizadas por indígenas. Em um passo seguinte, as teses e dissertações reunidas serão classificadas por tema e problema de pesquisa, para, só então, proceder-se a uma seleção de um conjunto restrito de textos integrais, nos quais será realizada a análise buscando entender se/como essa produção acadêmica de autoria indígena tensiona campos de saber, promove novos temas, problemas e abordagens no campo educativo. A presença indígena na pós-graduação e na prática da pesquisa tem o potencial de contribuir para que, no espaço educativo, seja reconhecida a pluralidade e a heterogeneidade de conhecimentos existentes, num amplo mapa o qual a ciência moderna é apenas um ponto, e também pode colaborar para expandir as experiências interculturais na formação acadêmica dos estudantes de pós-graduação, de modo mais geral.