Resumo: Os achados de Bruner (1987) de que o ser humano organiza sua experiência com o mundo na forma de uma narrativa implica em que devemos entender a identidade como uma construção narrativa. A identidade é organizada através da história da pessoa, não como ela ocorre literalmente, mas como ela é narrada. A identidade é organizada como uma narrativa autobiográfica, a qual tem a função de construir coerência e propósito à vida e ao mundo (McLean et al., 2019). Este estudo tem o objetivo de investigar a construção narrativa da identidade resiliente em jovens escolares em situação de vulnerabilidade. Nós estudamos as narrativas autobiográficas em busca do processo envolvido na construção da identidade narrativa resiliente. Participaram do estudo três jovens de ambos os sexos com idade entre 14 e 22 anos vivendo em uma comunidade da grande Porto Alegre dominada pelo tráfico de drogas e violência. Aos jovens foi pedido que contassem sua história de vida. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas. As narrativas foram submetidas a uma análise de estrutura, processo e conteúdo baseada no sistema da matriz narrativa de Gonçalves, Henriques et al. (2006). A identidade narrativa resiliente apareceu como histórias autobiográficas de superação, nas quais os protagonistas passavam de uma situação desfavorável a uma situação de equilíbrio. A identidade resiliente também apareceu em narrativas coerentes com rico conteúdo afetivo e reflexivo e com elementos de significação, que procuravam organizar a experiência em termos de construção de sentido e de aprendizagem. A construção de histórias de vida coerentes, com elementos afetivos, reflexivos e motivacionais está relacionada à capacidade desses jovens para enfrentar as dificuldades impostas e a buscar um caminho para superá-las.