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Nos últimos anos, temos experimentado mudanças significativas nos modelosde família e nos papéis de gênero. Se as mulheres lideraram astransformações, reivindicando relações mais igualitárias, é importante notarque também a masculinidade e seu envolvimento familiar vêm sendoressignificados. Este artigo visa a problematizar a produção da paternidade emum conjunto de livros de autoajuda composto por uma obra publicadaoriginalmente na França, em 1946, e por duas outras publicadas no século 21,mostrando os deslocamentos e inflexões que aparecem nestes materiais. Oslivros são considerados de autoajuda por darem conselhos que visam aorientas as condutas dos leitores. A obra de 1946 é intitulada Os dezmandamentos dos pais e foi escrita por Vérine, uma ativista em prol da família,fundadora da Escola de Pais, em 1929. Já as obras mais recentes tem são Serpai hoje: a paternidade em toda a sua relevância e grandeza, da portuguesaLeonor Balancho, e Seu filho precisa de você: lições para tornar-se um paiainda melhor, do estadounidense Neil Bernstein. Ambos os autores das obrasrecentes são psicólogos. A pesquisa foi desenvolvida por meio de uma análisediscursiva de cunho pós-estruturalista. As análises indicam que a obra demeados do século 20 tem por objetivo apresentar princípios educacionaisvoltados para a formação de sujeitos obedientes, ordeiros e com valoresmorais tradicionais. A obra, apesar de ser escrita por uma leiga, contém muitasreferências a autores tradicionais do campo da psicologia cognitiva, bem comoalguns da filosofia, mostrando a preocupação de mostrar uma fundamentaçãopara o exposto. Apesar do ênfase em referências acadêmicas, existe fortepreocupação com a religião e com a formação de filhos que sejam bonscristãos. As obras do início do século 21 exortam os pais a realizarem umatransformação de si que os tornem capazes de exercer uma paternidade queproduza filhos felizes e bem sucedidos. Apesar de serem escritas porpsicólogos, não se valem de referências, dando a entender que a formaçãoacadêmica já os credencia para tratar do tema. A partir da análise destesmaterias, é possível perceber transformações sobre o que seja um bom pai.Enquanto em meados do século 20, o pai deveria ser dedicado à família, massem uma exigência de grande afetividade, e voltado para formar filhostrabalhadores e com princípios cristãos, na atualidade espera-se que o paitenha um profundo envolvimento com o filho, mas seu objetivo não está tãofocado no caráter, mas na felicidade. Outro ponto que surpreende é quemesmo as obras atuais colocam uma maior responsabilidade sobre a mãe emrelação à criação dos filhos.